terça-feira, fevereiro 26, 2013

Geraldo e os vinhos químicos do vizinho...




Geraldo fazia vinhos interessantes.
Aquele baixinho de barba branca, cabelos grisalhos e olhar esperto e vibrante, era um poço de honestidade.

Vender os vinhos é que era complicado.

O teimoso vendia melhor os espumantes, mas produzia mais os tintos.

Ficou impressionado com o vinho do vizinho que tinha uvas com a qualidade idêntica a dele, mas trazia aromas mais complexos, embora não fossem tão interessantes como os dele.
O vizinho vendia os tintos aromáticos, com notas de boa madeira, taninos macios e café...

Começou a imaginar que ou o vizinho era um gênio no trabalho na vinícola, ou comprava uvas de outro lugar, ou comprava o próprio vinho ou tinha alguma outra coisa errada.

Um tal de Finelli vivia por lá trazendo alguns pacotes e conversando sempre em particular com o vizinho.

Começou a prestar mais atenção, até que um dia espiou a abertura dos pacotes pela fresta da janela e viu um amontoado de café solúvel e pensou: “como essa gente toma café...”

Só que o tal Finelli sempre voltava.

Vivia conversando e trazendo produtos.

Era hora de Geraldo espiar de novo.

Dessa vez foi com uma câmera e fotografou tudo.

Na hora nem sabia do que se tratava, mas nas fotos viu que num dos pacotes estava escrito: Goma Xantana.

Geraldo coçou a cabeça, pensou, repensou e saiu perguntando pela Serra Gaúcha o que era a tal goma.

Não foi difícil descobrir que era um produto usado para arredondar o vinho da forma mais artificial Possível.

Não era hora de abrir o jogo com o vizinho, era hora de espionar mais.

Passaram-se 2 dias e lá estava o Finelli de novo.

Câmera em mãos e a velha fresta serviu mais uma vez.

Viu uma bombona azul (aquele tipo de barril de plástico onde se coloca todo tipo de liquido).

Dessa vez estavam mais longe, mas a câmera tinha um zoom surpreendente e pode registrar o café solúvel, a Bombona e a Goma Xantana sendo dissolvidos e colocados no tanque onde o vinho já descansava.

Correu para os amigos e saiu perguntando.

Nem precisou correr muito.

Logo contaram pra ele a utilidade de cada um dos produtos.

Ele se sentiu o maior idiota do mundo ao saber que o café solúvel dava os aromas de café, O líquido da bombona azul era aroma de madeira em forma de liquido e a goma ele já tinha perguntado: Arredondava o vinho.

Mais surpreso ainda ele ficou quando viu o vizinho engarrafando o vinho dos vinhedos que ficam em frente da adega e que ele mesmo viu as uvas entrando no tanque.

Engarrafou como Merlot, mas as uvas não eram Merlot.

Tinha também bastante Açúcar para a chaptalização, mas isso Geraldo também tinha e não escondia de ninguém.

Voltou aos amigos, pesquisou na internet e viu que isso acontecia nos quatro cantos do mundo.

No dia seguinte a vinícola do Geraldo estava à venda.

O próprio vizinho comprou.

Geraldo foi embora pra Passárgada...

Nenhum comentário:

Carta Aberta da Vinícola Aurora

Carta aberta da Vinícola Aurora à sociedade brasileira   No início do século passado, algumas famílias italianas cruzaram o Atlântico à pr...