quarta-feira, dezembro 09, 2015
Bordeaux já definiu as armas contra o aquecimento global. Variedades portuguesas como a Touriga Francesa e Tinto Cão podem ser escaladas.
Acentuar o número de cachos por pé, retardar o ciclo vegetativo e Introduzir novas variedades de uva.
São os pilares da reação ao aquecimento do clima em Bordeaux, que segundo os pesquisadores, serão capazes de manter intacta a tipicidade e o caráter dos vinhos mais importantes do mundo.
Por enquanto, o calor e a seca da safra 2015, não incomodou em nada os produtores, que afirmaram que as colheitas mais precoces trouxeram um fator qualitativo interessante.
Mas o presidente do comité interprofessionel de Bordeaux (CIVB), Bernard Farges, disse que se as colheitas precoces se repetirem todos os anos, a Merlot, seria a mais prejudicada. E para quem não sabe, a Merlot é a variedade de Bordeaux mais plantada, com 50% de toda a plantação.
Por isso mesmo, deve ser a principal vítima do aquecimento global.
A Merlot é sem nenhuma dúvida a variedade que mais vai sentir o aquecimento global.
Nos próximos 20, 30 anos, ela pode estar madura em agosto (normalmente é setembro), segundo o professor da escola nacional superior de ciências agrônomas de Bordeaux, Kees Van Leewen.
Isso diminuiria sensivelmente a qualidade das uvas, tornando os vinhos com menos frescor e mais açúcar.
Portanto o remédio escolhido é o de retardar o ciclo vegetativo da Merlot, para que o amadurecimento seja mais lento, aproveitando o frescor das noites do outono.
Para isso serão selecionados brotos de uvas que naturalmente amadurecem mais tarde entre os vinhedos de Bordeaux.
A Cabernet Sauvignon, é a variedade que não sofre com esse aquecimento, portanto, deve ser mais plantada (tem 23% da superfície).
A Petit Verdot, deve ganhar fôlego.
É tardia e tem tudo para ter um papel importante nessa luta contra o tempo e o clima.
Se pensarmos a um prazo mais longo, algumas novas variedades podem ser introduzidas.
Nos anos 2040/2050, elas devem ser necessárias.
Os pesquisadores estão analisando 52 variedades diferentes, que foram plantadas em 2009, e apresentam características bem próximas às variedades bordalesas.
Em Outubro deste ano, 20 destas variedades foram vinificadas para serem comparadas com as variedades bordalesas.
A que se deu melhor.... Tinto Cão.
Portuguesa que está nos vinhos do Porto e também nos vinhos tranquilos do Dão.
E não se espante se entre as 40 variedades testadas não tenham várias outras portuguesas.
É que os estudiosos garantem que o aquecimento darão o clima do Douro (hoje) para Bordeaux nos próximos 30/40 anos.
Alguns viticultores fazem seus próprios estudos, mas todos na mesma direção: Manter a característica e tipicidade de Bordeaux, se adaptando com as mudanças climáticas.
O trabalho é longo, precisa plantar, esperar, vinificar...
Mas no vinho sempre foi assim.
O trabalho de pesquisa é financiado pela União Europeia e pela Adviclim, que avalia os impactos das mudanças climáticas nas parcelas de vinhedos.
Os estudos analisam de perto vinhedos da Gran Bretanha, Alemanha (Rheigau), Romênia (Cotnari) e França (Bordeaux e Vale do Loire).
Tinto Cão
É uma variedade de maturação tardia, pouco produtiva, cachos pequenos, resistente a doenças e à podridão e suporta temperaturas muito altas.
Cultivada na zona do Douro, dá aos vinhos cor, aromas florais e delicados.
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