No restaurante do Farina Park Hotel tinha um tesouro quase “arqueológico”.
Sabe aquela menina que era a mais feia da classe e quando cresce mata todo mundo de arrependimento?
Pois é, eu admito, no início dos anos 90 eu sentia um profundo desprezo pelos vinhos Marcus James.
Eram vinhos que não me atraíam, não me interessavam, não me convenciam nem mesmo com a propaganda do Amaury Junior dizendo que era o vinho brasileiro que fazia sucesso nos Estados Unidos.
A Aurora realmente exportou estes vinhos para os americanos, mas por aqui, muitas vezes virou tempero de comida.
Quando os gentis proprietários do Hotel Farina Park nos chamaram para um brinde de agradecimento (e éramos nós que teríamos que agradecer), vimos na adega garrafas de vinhos brasileiros de 3 década.
Miramos no Cabernet 1991.
Safra histórica na Serra Gaúcha, consideram a safra do século.
Perguntamos o preço. Insistimos em saber o preço. Inútil.
Claro que um vinho destes não tem preço, mas abrir aquela garrafa depois de nos oferecer um brinde com espumante, depois de nos receber com tanta simpatia e cordialidade era demais.
Estávamos atrasados para o próximo encontro, mas um vinho de 91 é um vinho de 91.
Nosso amigo, enólogo e sommelier, carinhosamente apelidado de Morgano, fez o serviço.
A rolha estava intacta, inteira, limpa com a ponta rocha, escura, quase negra.
O vinho tinha cor granada, brilhante, com reflexos tijolo, típico dos jovens senhores.
No nariz uma surpresa maravilhosa.
Ainda tinha fruta, frutas secas, caramelo, couro, chocolate.
Na boca ainda tinha boa acidez, era macio, equilibrado, com um final médio, mas cheio de história.
Penso no tempo que se passou desde aquela colheita.
Colheita feita sob o governo Collor de Mello, época em que a juventude brasileira saiu para as ruas e conseguiu afastar um presidente. Talvez época de se convencer.
Convencer citando outro presidente e chegando aos dias de hoje. Presidente do país que importava estes vinhos: Yes, we can!
PS: A foto é do amigo Gil Mesquita, do blog vinhoparatodos.blogspot.com
A máquina que tirou essas fotos deve estar sendo vendida por um bandido que roubou o Gil no Aeroporto de Porto Alegre.