Na Provence o tempo passa tão rápido que não sei se começo falando do Patrick ou da Virginie.
O Patrick é um cara fantástico, cozinha como poucos, é criativo como quase nenhum outro e é modesto como só ele.
Recebeu uma estrela do Michelin pelo trabalho que faz em seu restaurante em Saint-Tropez, mas esconde a estrela, não mostra pra ninguém, não fala no assunto, parece que tem vergonha.
Quase todo mundo faz Bouillabaisse, ele costuma dizer.
Não é verdade.
A Boulabauisse de Patrick, só Patrick faz, mas ele teima em se achar um simples mortal.
E as criações infinitas que ele prepara e nem nome coloca?!?!?!?!
Incrível esse Patrick!
E olha que os vizinhos com um simples artigo em uma revistsa de bairro fazem um estardalhaço danado.
Patrtick não.
Não é do feitio dele, da estirpe dele.
Filho de cozinheiro, filho de cozinheira, neto de dono de restaurante, ele imagina com toda a certeza do mundo que o que ele faz é bem simples, mas ninguém é capaz de acreditar nisso. Nem eu.
Virginie é a mulher mais linda, doce, educada, inteligente e desejada da Côte d'Azur, mas pra ela isso não faz nenhum diferença.
Vale acrescentar que produzia rosés fantásticos e nem falava no assunto.
Era coisa de família.
Ela nem pensa em tirar proveito disso para uma situação ou outra.
Segue seu trabalho, seus estudos, sua vida...
Negou com apenas 3 letras um convite para apresentar um programa de tv.
Dividir sua inteligência, sua cultura, seus vinhos...
Seria normal, seria interessante, seria bom, mas...
Se achava a mais normal e natural do viventes.
Patrick recebeu a segunda estrela, dessa vez chegou a ligar para a Michelin, dizendo que não havia autorizado a publicação de seu estabelecimento.
Em vão.
Na democracia todos podem escrever sobre estabelecimentos de portas abertas e alvarás expedidos.
Um ano depois e a terceira estrela quase fez Patrick fechar as portas.
Não aumentou um centavo nos preços e os clientes de longa data, continuavam tendo suas mesas e a prioridade total em reservas e até visitas de última hora.
O preço acabou sendo atrativo demais e o restaurante começou a trabalhar com reservas e portas fechadas.
O que parecia solução virou um pesadelo.
Quanto mais exclusivo, mais os milionários e famosos querem o lugar.
De Mick Jaeger a Paris Hilton, todos passavem por lá.
Pediam para conhecer Patrick e quando ele aparecia era com a simpatia a humildade que muitas vezes desapontava os visitantes.
Como uma onda é difícil da parar, o jeito era surfar nela.
Patrick aceitou uma entrevista na tv francêsa e terminou com uma frase simples e direta.
-Sou só uma pessoa que faz comida. Não me sinto chef de nada.
Não me sinto acima de nada.
Só alimento as pessoas de um jeito que tenham prazer...
Virginie seguiu no anonimato.
Usou sua inteligência para ela mesma, seguiu vivendo e trabalhando como se fosse o que realmente é.
Os vinhos receberam a maior pontuação que um vinho da Provence jamais havia alcançado.
Ela seguiu igual.
Uma pessoa como outra qualquer, mas que se quisesse poderia se achar mais...