segunda-feira, outubro 28, 2013

Jane Prado visitou o Santovino, em São Paulo. Um restaurante focado no vinho.

O bolso de quem gosta de vinho sofre muito no Brasil. Claro que, quando eu falo em sofrimento, não tem nada a ver com dores e tristezas de verdade, apenas uma forma de expressar o quanto é difícil entender o porquê de tanto imposto neste país. Como se não bastasse tudo que já está embutido no preço de uma garrafa de vinho ao consumidor final, ainda existe a falta de foco dos restaurantes, que querem ter mais lucro na bebida que na comida, que deveria ser a sua grande estrela.

Espumante simplesmente incrível
Por achar errado os bares e restaurantes terem essa política absurda de lucro em cima do vinho, que valorizei ainda mais a iniciativa do Santovino Ristorante: trabalhar com preço de importadora em sua casa. Com certeza, atitude de quem quer ajudar o crescimento do consumo de vinhos no Brasil.


Fui convidada para conhecer o restaurante, afinal a ideia é sensacional, mas de nada adiantaria se a comida e o atendimento não fossem especiais. Pois bem, chegando lá tivemos o prazer de saborear pratos incríveis, feitos com capricho e carinho pelo Chef Paulo Kotzent.


A Adega do Santovino é bem especial, com vários rótulos incríveis, permite que as pessoas gastem o que se programaram para o jantar, mas que com esse mesmo valor possam degustar um vinho superior ao que estão acostumados, ou ainda, permite que as pessoas percam o medo de pedir a carta de vinhos. Afinal, lá não dói no bolso fazer um brinde especial.

Um Rosé refrescante com características delicadas e intensas ao mesmo tempo!
Parabéns pela iniciativa. Espero que os demais restaurantes comecem a ter vergonha dos preços que praticam e sigam o exemplo do Santovino.
Santé!


M´Bongo, Pierre e o Vendedor de Mouton Falsificado



Quando Francis M´Bongo deixou a Costa do Marfim para trabalhar em Paris, ainda não havia provado sequer uma taça de vinho.
A loja no Boulevard de la Madeleine era luxuosa, M´Bongo só tinha o direito de entrar quando alguma garrafa ou taça se quebrava e sua vassoura mágica era rapidamente solicitada. Quando a loja fechava sim, o mutirão da limpeza entrava com tudo e as garrafas pela metade eram deixadas de lado, pronta para ir pro lixo. Claro que Pierre não deixaria que isso acontecesse.
O filho de marroquinos, nascido em Paris, conhecia vinhos.
Quando passou dois anos no Marrocos trabalhou como sommelier em um hotel 5 estrelas. Girava a taça, falava em aromas, sabores, enquanto os outros riam.
M´Bongo não. Ficava admirado!
Com o tempo, enquanto os outros riam, Pierre ensinava os prazeres do vinho para o amigo africano. Com a chegada do verão, Pierre fez como de costume: pediu sua demissão.
Todos os anos, nessa época, partia para o trabalho nas colheitas pela França afora.
Primeiro Champagne, depois Bourgogne, Rhône, o que desse tempo.
Quanto mais colheitas melhor! Dizia.
M´Bongo gostou da ideia e perguntou se cabia mais um.
Claro, respondeu Pierre.
Com mochila nas costas e vontade de sobra, lá foram eles.
Conseguiram trabalhar em 4 colheitas, se divertiram um bocado.
M´Bongo era forte, brincalhão. Por isso era convidado a voltar por cada produtor onde trabalhava.
Um deles, no Languedoc, ofereceu trabalho fixo para os dois, mas voltar era preciso.
A mesma loja no Boulevard de la Madeleine recebeu a dupla de braços abertos. A essa altura M´Bongo é que ensinava os outros funcionários da retaguarda.
Num belo dia, um senhor muito bem vestido apareceu vendendo garrafas bem abaixo do preço habitual e monsieur Patrick estava pronto a fechar negócio.
Pierre chamou o patrão de lado e disse:"os preços estão muito baixos monsieur, é arriscado!"
Por sorte Patrick era um patrão liberal. Aceitava sugestões e opiniões. Olhou para o vendedor e disparou:"Podemos provar o vinho?"
-Monsieur, se trata de um Mouton Rotschild, não é praxe abrirmos essas garrafas. São conhecidas e valorizadas.
-Por isso mesmo, são mais valorizadas pelos outros do que pelo senhor. Os preços são bons demais, se eu não comprar, pelo menos pago a garrafa.
-Quem é o seu sommelier?
-O sommelier ainda não chegou. Vou provar com meus dois funcionários que aqui estão.
O vendedor olhou para Pierre, um rapaz novo, com barba por fazer, calças jeans surradas e mãos sujas de trabalho. Olhou para M´Bongo com incrustrações de ouro nos dentes, corte de cabelo desenhado a moda africana e jeito de jogador de basquete americano.
-Está bem monsieur, vamos lá.
M´Bongo cheirou a taça imóvel, mexeu, sentiu o aroma e nem colocou na boca. Apenas balançou a cabeça negativamente. Pierre colocou na boca e bebeu o vinho e Monsieur Patrick nem se deu ao trabalho.
-Então, o que acharam? Perguntou Monsieur Patrick.
-Falso!
-Falso!
O vendedor arregalou os olhos e foi embora com pressa. Quase correndo.
Patrick percebeu que os dois tinham razão.
-A partir de hoje trabalham no setor de compras. Salário melhor, trabalho melhor e mais leve.
-Só uma coisa monsieur!
-Digam!
-Em época de colheita não trabalhamos!!!

O Vinho e a Pintura - Série sobre Baco - Jean-Antoine Gros


Título: Baco e Ariadne (obra de 1821).
O parisiense Jezn-Antoine Gros, nasceu em 1771 e morreu em 1835.
É um dos representantes do romantismo francês.

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