sábado, junho 09, 2012

David, Renata, Lorena, Renata, David...


Naqueles vinhedos retorcidos, David via mais histórias que a idade das vinhas poderia supor.
Aos 40 anos, viajou o mundo, conheceu lugares, pessoas, mulheres.
Sim, o próprio David é que separava pessoas de mulheres.
Não era nenhum machismo, pelo contrário.
David dizia que as pessoas eram imperfeitas, mas as mulheres...
Mulheres eram a perfeição.
Mais ainda para ele, perfeição era Renata.
Ela fez um estágio na vinícola que ele na época era apenas um funcionário dedicado.
Os dois viviam distantes separados pelo espaço, pela saudade e pela razão.
Ela na Toscana, ele na Ribera del Duero.
Voltar a exportar os vinhos, voltar a receber altas pontuações e recuperar o tempo perdido era o objetivo principal.
A vinícola era do antigo patrão, que depois de desilusões amorosas que acabaram prejudicando toda a produção e distribuição, vendeu os vinhedos para David e foi morar na Austrália.
Os contatos com Renata eram compostos de discussão e sonhos.
Os sonhos de um dia morarem ao menos na mesma cidade e as discussões eram normais quando se vive na distância.
Num espaço de tempo onde a discussão se tornou silêncio, um bater de palmas fez David encontrar Renata por engano.
Lorena era uma cópia quase perfeita de Renata.
Ele nem precisava de funcionária naquele momento, mas se tratando de uma Renata, mesmo que falsa, valeria a pena.
Ela ajudou bastante nos vinhedos.
Eles se aproximaram numa rapidez impressionante.
Em dois dias David só faltava chamar Lorena de Renata.
A voz era a mesma, os cabelos iguais, o sotaque italiano idêntico e o jeito doce...
Foi assim que os dois resolveram sair para um jantar onde o final pensavam conhecer.
O beijo veio logo, as carícias também.
O Único de Vega Sicilia serviu para deixar Renata mais presente ainda.
Na volta pra casa poucas palavras, muita vontade de matar a saudade.
A noite foi longa como deveria ser.
O sonho foi mais real ainda com Renata aparecendo como de costume, linda, única.
A manhã veio logo, no abrir de olhos e na dureza da realidade instantânea.
Não era Renata!
David percebeu naquele dia a verdade mais pura e simples.
As pessoas são insubstituíveis.
Naquela manhã Lorena decidiu partir, David engarrafou os vinhos que dormiam tranquilos por 3 anos em barricas francesas.
Os vinhos sabem esperar.
David voltou aos bons tempos, Renata voltou pra Espanha e Lorena.
Bem, Lorena continuou sendo Lorena.

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