Os 52 anos de Julien não passavam de dois numeros que para ele não combinavam nem um pouco.
Sobrava vontade e disposição.
Os vinhedos tomavam todo o tempo que tinha, ocupam pelo menos 50 anos da vida dele, porque aos dois, se sentava na mesa de triagem e ajudava a escolher as melhores uvas ao lado da mãe.
Ele passava o dia nos vinhedos e morava em Dijon, que ficava bem perto da maior parte dos lotes que ele cuidava como se a cada dia fosse receber a visita de uma comissão de críticos.
A vida era bem tranquila, trabalhava, voltava pra casa, e namorava uma vez ou outra desde que Jeanne partiu para que ele pudesse viver.
Estranho como a Borgonha é tão perto e ao mesmo tempo tão longe de Paris.
Julien enviava os vinhos para Virginie, uma mulher que ele não conhecia pessoalmente, mas por telefone falavam dos mais variados assuntos.
Toda semana ele enviava os vinhos, ela recebia, vendia, pagava...
Todos os dias ela ligava, tendo encomendas ou não.
Ah se não ligasse!!!
O dia perderia totalmente a graça.
Conversavam sem nunca falar sobre eles mesmos.
Falavam de vinhos, política, rugby, namoradas, namorados, comida, receitas, música, literatura, cinema, teatro, tudo...
Quase um ano de conversa até que Virginie tivesse que trazer com ela um comprador inglês que queria muito conhecer os vinhedos e a pequena vinícola.
No horário combinado um Peugeot com mais de 10 anos de vida se aproximou jogando terra pra todo lado.
Quando a porta abriu ele nem teve tempo de olhar para o tal inglês.
Ficou paralisado.
O inglês estendeu a mão, que ficou no ar.
Virginie definitivamente não era o que ele esperava.
Era muito jovem e ao mesmo tempo madura para aquele tipo de conversa que tinham.
Era muito linda para aquele tipo de senhor.
Cabelos castanhos, olhos castanhos, altura média, sorriso, rosto, corpo, tudo impressionava.
A situação para ele estava entre a tragédia e a glória.
Tragédia porque imaginava alguém da sua idade.
Glória porque conversava com a mulher mais linda que já tinha passado por aquelas terras.
O inglês desistiu dos cumprimentos e seguiu para os vinhedos.
Virginie abriu um sorriso e abriu os braços para envolver Julien de uma vez por todas.
Ele tremia.
Sentiu o que nunca havia sentido.
Ela estava constrangida com a falta de ação de Julien.
Quase um estado de choque.
Andou também para os vinhedos e o dia acabou correndo normalmente.
O inglês finalmente foi ouvido, cumprimentado e acabou enchendo a cara de vinho.
Virginie tinha uma elegância impressionante.
Bebia pequenos goles sem nunca exagerar, nunca perder a postura, a classe.
Foi embora do mesmo jeito que chegou.
Julien ficou olhando a poeira deixada pelo velho Peugeot até que o carro desaparecesse completamente.
Ele começou a andar de um lado pro outro.
Percebeu que era apaixonado pela mulher dos telefonemas antes mesmo de saber que ela era uma jovem que dificilmente se envolveria com ele.
Dificilmente....
Julian não guardava palavras para a outra vida, dizia que só tinha essa vida.
Ligou, falou, ouviu...
Passou a noite lembrando do escândalo que foi o casamento da fera do rock Jerry Lee Lewis, que aos 23 anos se casou com a prima de 13.
Foi uma tragédia!
Não fosse isso teria outro Elvis Presley.
Mas por outro lado ninguém falava mal do presidente Sarkozy com a bela Carla Bruni, nem mesmo sobre os 25 anos de diferença entre Michael Douglas e Catherine Zeta Jones.
O dia amanheceu e nada de sono.
Foi direto para os vinhedos e os telefonemas continuaram.
Outros ingleses apareceram junto com alemães, suecos, sempre tinha alguém para Virginie aproveitar o motivo e ver Julien paralisado.
O tempo foi passando e ele nem lembrava mais de Michael Douglas, nem Jerry Lee Lewis e muito menos Sarkozy.
Numa noite fria em Dijon, quando e neve caía lenta como se flutuasse, Julien e Virginie se encontraram definitivamente.
Julien lembrou de uma frase do filme *ensina-me a viver, de 1971.
“ O coração que não desistiu jamais envelhece...”
*Sinopse do filme Ensina-me a Viver
Harold
(Bud Cort), rapaz de 20 anos com obsessão pela morte, que passa seu tempo indo
a funerais e simulando suicídios, um dia conhece Maude (Ruth Gordon), uma
senhora de 79 anos apaixonada pela vida. Eles passam muito tempo juntos e,
durante esta intensa convivência, ela o apresenta a beleza da existência.
Harold (Bud Cort), rapaz de 20 anos com obsessão pela morte, que passa seu tempo indo a funerais e simulando suicídios, um dia conhece Maude (Ruth Gordon), uma senhora de 79 anos apaixonada pela vida. Eles passam muito tempo juntos e, durante esta intensa convivência, ela o apresenta a beleza da existência.