segunda-feira, dezembro 22, 2008

Valery não pensou duas vezes. Conto





Numa tarde de sol na Borgonha, um grupo de apreciadores de vinho com caderneta e canetas nas mãos entrou na loja de Valery. Era uma loja de um Domaine familiar que faz vinhos de qualidade há mais de 40 anos. Valery é jovem, cabelos louros quase brancos, olhos azuis e cara de bom moço. O nome é Paul Valery, em homenagem ao poeta francês. Embora Valery não fizesse nem poesia nem prosa, vivia citando trechos do famoso que lhe emprestou o nome. Os homens entraram e foram logo dizendo: "somos críticos especializados de uma revista alemã". Com educação e cinismo Valery começou a servir os copos e ouvir comentários.
Resolveu servir utilizando um decanter e não mostrava o rótulo de nenhum vinho. Percebeu que os comentários e anotações não tinham muito fundamento. Respondeu algumas perguntas, escutou elogios e disse quase sem pensar: "tenho um vinho especial que ainda não foi colocado no mercado, mas um Master of Wine veio aqui e disse que está entre os melhores vinhos que tomou".
Empolgados com a afirmação os críticos da tal revista alemã pediram encarecidamente que Valery trouxesse a garrafa. Valery pediu licença e disse que iria ver se era possível. Entrou na cave e pegou uma garrafa de um Bourgogne Passe-tout-grains (o mais barato da Borgonha onde se utiliza inclusive a variedade Gamay no corte) retirou o rótulo e levou aos visitantes.
Antes disse que o vinho precisava ser decantado. Trabalho feito começaram as provas. Suspiros de prazer e canetas dançando para anotar qualquer detalhe. O mais velho do grupo disse: "voce tem uma jóia nas mãos rapaz, muito obrigado."
Mais alguns goles (cuspir este vinho nem pensar) e os alemães foram embora cheios de orgulho pela raridade provada. Raridade aliás que custa 3 euros ali mesmo. Me aproximei de Valery e perguntei: "Fez o que eu estou pensando?"
Valery balançou a cabeça num gesto afirmativo e disse: "Um dia o grande Paul Ambroise Valery escreveu: "A ação é uma loucura passageira".

Grandes vinhos para grandes ocasiões - Mendoza - Argentina


Achaval Ferrer 2002 - Finca Altamira

O responsável por este que já está sendo considerado o melhor vinho argentino é o italiano Roberto Cipresso. Ele utiliza 95% de carvalho francês (100% novo) e 5% de carvalho americano, e não tem prazo fixado para o envelhecimento. Neste 2002 foram 14 meses.Tem características de um vinho de Bordeaux.É profundo, cor púrpura opaca. No nariz mistura amora, frutas negras, como cereja. Um toque mineral, lápis e algumas notas florais. Na boca é suave e volumoso com toques de especiarias, mirtilo e cassis. O carvalho trouxe uma certa doçura. O tanino da estrutura, mas é muito bem integrado. Ótimo potencial de envelhecimento.

Carta Aberta da Vinícola Aurora

Carta aberta da Vinícola Aurora à sociedade brasileira   No início do século passado, algumas famílias italianas cruzaram o Atlântico à pr...