terça-feira, dezembro 18, 2012

O Lafite 1945, Guilhaume, o fim do mundo e Maribel



Guilhaume nem era um estudioso da cultura maia, mas ouviu falar nessa história de fim do clandário e fim do mundo e colocou em prática um desejo que devia estar escondido por décadas na sua mente.
Pegou os melhores vinhos que seu pai colecionou durante anos e começou a colocar em prática a operação final dos tempos.
Para o Pavie 1976 convidou Mireille, uma parisiense de corpo esguio, sorriso largo e olhos de deixar qualquer um hipnotizado e atordoado ao mesmo tempo.
Ela amava os vinhos e jamais diria não para uma experiência como essa.
A garrafa foi inteira e, no final, como que por gratidão, Mireille passou a noite com Guilhaume.
Na saída um bilhete: Grande vinho. Longa noite...
Guilhaume ficou intrigado com o "Longa noite", era um duplo sentido que incomodava: a noite teria sido um tédio? Não foi o que ele sentiu.
_ Será que as mulheres mentem tão bem assim?
Se o mundo vai acabar, não se pode perder tanto tempo pensando, então Guilhaume se adiantou e convidou para jantar, regado ao La Tour 1961, a bela, na verdade belíssima, Monica, uma italiana que mora em Mônaco, mas não viu dificuldade nenhuma em se deslocar até Lyon para uma noite tão especial.
Mônica era puro sex appeal, lábios grossos, pernas longas e bem torneadas, cabelos negros, olhos verdes, seios como se fossem de silicone, mas não eram, les fesses... Ah les fesses...
O jantar correu como esperado e o La Tour 1961 era tão grande que ninguém ousaria dizer que tinha passado um pouco do auge e se transformado em um "Seigneur", cheio de virtudes, mas com uma fragilidade quase invisível.
Monica passou a noite com Guilhaume e saiu antes mesmo que ele acordasse, deixando um bilhete: Vinho Grandioso. Noite curta.
Guilhaume, mais uma vez, ficou intrigado com o "Noite Curta", teria sido curta pelo desempenho dele ou curta porque poderia ter sido mais longa?
Na semana do fim do mundo não dá pra pensar muito.
Desceu na adega, olhou, remexeu e tirou o Lafite Rotschild 1945, a jóia mais guardada da adega, algo que ninguém ousaria mexer a não ser que o mundo fosse acabar.
Passou o dia ao telefone chamando por Maribel.
A espanhola era difícil de achar, difícil de conquistar, difícil de atrair para o que quer que seja.
Mas por um Château Lafite da lendária safra de 1945, que marcou o fim da segunda guerra mundial e mais um bilhete de primeira classe, quem não saíria do sol de Sevilla para um encontro desses.
É hora de falar de Guilhaume: alto, cabelos castanhos, olhos azuis, corpo atlético pelas horas de bicicleta, que se dedica a cada dia e muita, muita personalidade.
Guilhaume esperava Maribel no mesmo carro que usava para percorrer os vinhedos da família, carregar os produtos usados nos vinhedos e levar clientes estrangeiros para visitar a propriedade.
Ela não era ligada nessas coisas, o luxo era algo divertido, mas dispensável.
Mas o Lafite do ano do final da segunda guerra era mais que um vinho.
Além dos 100 pontos de Robert Parker, era um vinho que marcava uma época de paz em toda a Europa e marcava também uma vitória contra o preconceito racial e religioso.
Isso mesmo, Maribel era de uma família cigana. Ciganos também sofreram um bocado na segunda guerra, perseguidos por Hitler.
Aquele vinho era beber histórias e Guilhaume não era de se jogar fora.
O jantar foi servido com a simplicidade de Maribel.
O vinho, não fosse a taça, o decanter e a temperatura adequada, seria como um vinho qualquer.
Sem palavras, despejaram o líquido vermelho, com tons de tijolo na taça e deixaram encher a boca com calma e paciência.
Maribel conhecia vinhos como poucas pessoas.
Tinha o hábito de primeiro colocar na boca e depois sentir os aromas sem mexer a taça.
Quando girava a taça, já tinha descoberto tudo que o vinho poderia mostrar.
Nem parecia um jantar. Era um ritual silencioso, simples, inesquecível.
Os dois adormeceram na sala.
O avião saía cedo, como havia pedido Maribel.
Lá pelas 10 da manhã, quando Guilhaume abriu os olhos e viu o corpo de Maribel, com uma camisa comprida e as pernas todas a mostra, olhando para dentro da geladeira, preferiu fingir que ainda dormia. Ela andou na sua direção e quando chegou bem perto, ele não sabia direito se abria os olhos ou se continuava a fingir.
Ela se aproximou ainda mais, acariciou seu rosto, beijou sua boca suavemente e falou bem baixinho: Vinho grandioso. Homem misterioso.
Hora de abrir os olhos rapidamente e perguntar: O que quer dizer com misterioso?
Um beijo infinito não deixou tempo para resposta e Guilhaume não sabia ao certo se o mundo tinha ou não acabado.
A manhã foi como um sonho de adolescente.
Enquanto Maribel tomava banho, Guilhaume se preparava para dizer que queria que ela esperasse o fim do mundo com ele. Ela fazia hora, esperando que Guilhaume pedisse para ela ficar.
Foi quando o tempo virou e uma chuva torrencial chegou a Lyon.
Não se sabe quanto tempo durou a chuva, mas Guilhaume e Maribel estão esperando pelo fim do mundo.
E se o mundo não acabar nesse dia 21, esperarão até que isso aconteça, sem pressa alguma.

Provei o azeite brasileiro. Excelente!


Depois de visitar o site e ver os pontos de venda pelo Brasil, fui ao Empório Santa Luzia para procurar os dois varietais produzidos pela Olivas do Sul, só encontrei o Arbequina.
O azeite é produzido no Rio Grande do Sul, em Cachoeira do Sul, entre Porto Alegre e Santa Maria.  
A minha curiosidade foi pelo ineditismo de uma cultura de olivas no Brasil e por saber que os azeites são bem diferentes do vinho, pois dependem muito mais do frescor, do que do terroir.
Comprar um azeite europeu significa comprar um azeite que viajou, ficou alguns dias na alfândega e, com sorte, demorou 3 meses para chegar até o consumidor. Eu diria até, com muita sorte!
Por esse motivo, tenho escolhido bons azeites argentinos e chilenos, que viajam menos e chegam com menos burocracia ao Brasil.
Os europeus boicotam produtos agrícolas brasileiros, nosso governo coloca os impostos nas alturas e nossos portos e alfândegas amam a burocracia, como Romeu amava Julieta.
Usando máquinas italiana de última geração, a Olivas do Sul produz azeites extra virgens de alta qualidade.

Provei o Arbequina com a taça certa, na temperatura do corpo e, para o bem e para o mal, não era diferente dos azeites europeus.
Para o bem pela qualidade, que é bem clara.
Com 0,2 de acidez, o azeite tinha notas herbáceas, alface, tomate e leve amendoado. Na boca tinha o amargor tradicional e picante, na medida certa.
Quando disse que não era diferente para o bem e para o mal em relação aos europeus, é porque o preço (21 reais por 250 ml) é alto, tratando-se de um produto nacional, e o frescor esperado não se confirmou.
Estava já um pouco rançoso, como deviam estar 90% dos azeites importados daquela prateleira.
Devia estar a muito tempo na prateleira, pela falta de conhecimento e pelo gosto dos clientes daquele empório de alto luxo, que por certo preferem os importados.
A Arbequina é uma variedade de colheita precoce, alta produtividade e bom rendimento de gordura. 
Mesmo assim, o azeite passou no teste com louvor, já que o frescor depende de seu consumo em curto prazo.
Um bom azeite, mesmo estando há muito tempo na prateleira mostra qualidades, nos dando a certeza de que ele já foi muito melhor logo após a prensagem.
Quero provar o outro varietal, Arbosana, que não tinha na prateleira e quero provar fresco.
Vi que vendem pelo site: http://www.olivasdosul.com.br/

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