sábado, janeiro 08, 2011

Consumo de vinhos na França não para de Cair, e o Presidente Sarkozy não gosta de vinhos!


Estudo do ministério da Agricultura da França, publicado pelo órgão Viniflhor, mostra que o consumo de vinhos no país não para de cair.
Os números mostram uma taça de vinho por dia, por habitante (para nós seria uma eternidade, faltaria vinho no mundo!), contra 3 taças por dia há 50 anos.
A queda pode continuar até 2012, já que no primeiro trimestre de 2010, o consumo caiu de forma assustadora: 15% em volume e 28% em valor.
Num país como a França os números são o aviso de um desastre econômico e social que pode levar milhares de famílias de pequenos produtores à falência.
Pra piorar, o presidente Sarkosy não gosta de vinhos!

Marcel não cuspiu no prato que comeu


Aquela primavera era sem dúvida a mais chuvosa de toda a vida de Marcel.
Há 23 anos, a bodega era pequena, as dificuldades eram muitas e as facilidades não existiam. Logo que saiu da universidade de Bordeaux, Marcel conseguiu aquele emprego que era mesmo para preencher o tempo. Acontece que desde o primeiro vinho, Marcel mostrou uma competência impressionante. Mudou as barricas, mudou a tosta das barricas, mudou a forma de manejo dos vinhedos e mudou até os rótulos.
Tinha carta branca de Monsieur Robert, que hoje não está mais nesse mundo.
Em 5 anos transformou 3 hectares em 30. Vinhos medíocres em vinhos especiais e vinhedos cheios de produtos químicos em orgânicos.
10 anos depois escolhia uma equipe de enólogos e delegava poderes.
Mais 5 anos e Monsieur Robert sofreu um acidente fatal.
O helicóptero caiu entre as montanhas dos Pirineus.
Com 20 anos de serviços prestados, Marcel estava sendo encostado aos poucos pelo filho mais novo de Monsieur Robert que acabara de sair da faculdade.
Marcel era muito bem tratado, muito respeitado, mas estava sendo colocado de lado.
Os vinhedos orgânicos estavam sendo contaminados e ele nada podia fazer. A quantidade ganhava cada vez mais espaço diante da qualidade.
Por dois anos Marcel aguentou tudo, ficou calado e obediente, mas...
A safra 2002 foi um fracasso para eles, revistas, blogs, sites e guias esqueceram dos vinhos, Jean, filho mais novo de Monsieur Robert continuava a todo vapor.
Vendia os vinhos mais baratos, em mais quantidade e para mercados, digamos, exóticos.
As vendas para o mercado interno quase caíram a zero e a reputação de todos também despencava.
Foi quando a viúva de Monsieur Robert se aproximou, trouxe uma velha carta e leu em voz baixa algumas palavras escritas com a letra rabiscada de Monsieur Robert: Querida, lembra daquele vinhedo no Pomerol? Vou comprá-lo hoje e deixarei com os antigos proprietários para que continuem fazendo seus vinhos e nos paguem uma porcentagem dos lucros.
No futuro quero fazer um grande vinho por lá. Com a ajuda de Marcel isso será muito fácil...
-Entendeu, Marcel? Os antigos proprietários estão saindo, não querem mais trabalhar com os vinhedos. A idade avançou e os filhos partiram para outros negócios. Jean optou por um outro tipo de vinho, que confesso, não tenho coragem de provar. Sei que se não fosse por Robert, você já teria saído faz tempo. Ficou, deixou teu nome cair no esquecimento, deixou as páginas das revistas especializadas e deixou de fazer vinhos com amor. Amanhã vamos ao cartório. O vinhedo é teu!
Mais emocionado que feliz, Marcele espaço no Pomerol, Marcel tinha vinhedos na Borgonha, no Rhône e até na Argentina.
Com a mesma humildade de quando recebeu o primeiro emprego de Monsieur Robert, ele bateu na porta de Madame Severine e falou com a voz baixa de sempre: a senhora tem um emprego pra mim?
Madame Severine abraçou Marcel aos prantos, quase ajoelhav olhou para Madame Severine e balançou a cabeça afirmativamente.
Os olhos estavam vermelhos, o olhar triste e a boca seca. Um nó invadia a garganta de Marcel.
No dia seguinte, com os papeis na mão Marcel assumiu os vinhedos, agradeceu Jean e seguiu seu caminho.
Os vinhedos estavam mal cuidados, mas eram de vinhas velhas tratadas apenas com *calda bordalesa.
Naquela safra, os vinhos melhoraram bastante, mas na safra seguinte a melhora foi impressionante.
Jean passou dos 30 para 13 hectares.
Marcel recebeu pontuação máxima do Guide Hachette.
Em 2007 Jean voltou aos 3 hectares iniciais, Madame Severine ja passava por dificuldades e Marcel estava na primeira página do **Madame Figaro.
Sem poder crescer pela falta de espaço no Pomerol, Marcel tinha vinhedos na Borgonha, no Rhône e até na Argentina.
Com a mesma humildade de quando recebeu o primeiro emprego de Monsieur Robert, ele bateu na porta de Madame Severine e falou com a voz baixa de sempre: a senhora tem um emprego pra mim?
Madame Severine abraçou Marcel aos prantos, quase ajoelhava aos seus pés. Jean acabara de partir para um emprego num banco em Paris, os vinhedos estavam largados e o negócio acabado.
Madame Severine nunca mais passou dificuldades, os mercados exóticos já não podiam pagar pelo preço dos vinhos e o mercado interno se acotovelava pela garrafa do Grand Cru Cuvée Robert.



*mistura a base de cal e cobre que protege os vinhedos de algumas doenças e parasitas
**revista do jornal Le Figaro

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