terça-feira, abril 07, 2015

Entre um Vin Santo e outro tinha Giulia...



Fazer o melhor vinho da toscana não valia naquela hora.
Sempre que se sentava no bar para tomar um vin santo e conversar com Lorenzo, Paolo esquecia de tudo, deixava de ser tudo e se tornava um simples mortal.
Sim, porque na região ele era conhecido por todos, na verdade a Itália toda conhecia Paolo.
Ele tinha apostado em inovações, tinha feito vinhos fantásticos e tinha mudado a viticultura da região e do país.
Naquele pequeno bar e nos ouvidos de Lorenzo, ele se sentia como um crente no confessionário.
A bola da vez era Monica.
A bela, jovem, alta, magra, tímida e conservadora, tinha deixado Paolo em pedaços.
-Lorenzo, ela disse que me amaria pra sempre. Disse que nunca deixaria de falar comigo. Disse que sempre atenderia o telefone. Disse que eu era tudo que queria.
Lorenzo tentava a todo custo acalmar Paolo.
-Os amores são assim Paolo, se fala muitas coisas que não são exatamente verdade.
-Ma che cazo!!! Ou é verdade ou não é verdade... Repetia Paolo.
-Verdade momentânea, Paolo...
-Nunca provou um vinho que parecia maravilhoso no início e se transformava num vinho sem graça, sem corpo, sem alma...
-Senza Anima!!! È vero.
-É igual com as mulheres. Elas dizem o que for mais interessante no momento. Dizem para não quebrar o clima.
Paolo não entendia o que Lorenzo queria dizer, mas aos poucos foi entendendo que o amigo falava dele mesmo.
Lorenzo tinha uma mulher, uma filha e tinha Giulia.
Com a mulher se desentendeu, com a filha se entendia aos poucos, mas com Giulia...
Lorenzo não era um ouvinte qualquer.
Era alto, belo, conhecia se não todas, quase todas as mulheres mais lindas da região.
Antes de Giulia, cansou de ouvir palavras de amor, promessas fáceis e falsas e caiu diversas vezes até encontrar Giulia.
Ela também fez promesas, também quebrou, mas honrou as mais importantes.
Paolo sorriu e perguntou: Esta pensando em Giulia, não é Renzo???
Ele apenas levantou os olhos, serviu mais vinsanto e se calou.
-Diga se ela não te prometeu o mundo e depois desapareceu?
Renzo deu um sorriso bem suave, olhou nos olhos de Paolo e mais uma vez nenhuma palavra.
Os dois conversaram por mais meia hora.
Paolo chorou e amaldiçoou todas as mulheres da terra.
Renzo, olhou e dessa vez falou em voz baixa: Cerca...Cerca...
-Procurar o que Renzo?
-Alguém como Giulia. Nunca desligou o telefone pra mim, nunca deixou de me atender, nunca deixou de me apoiar, nunca negou o ombro, nunca negou o beijo, nunca negou os sonhos...

O Vinho e a Pintura - Flávio Rossi - 2


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