Giuseppe era o homem mais conhecido de toda a região do Abruzzo. Dono de vinhedos, dono de lojas, dono de supermercado e de uma fábrica de tecidos que era a sua principal fonte de renda.
Mesmo assim passava o dia cuidando dos vinhedos.
Não havia um trabalhador temporário ou fixo que não quisesse trabalhar para Giuseppe. Ele pagava normalmente mais do que combinava.
Combinava uma coisa, via o desempenho do contratado, ficava sabendo de detalhes da vida dele, fazia amizade e pagava sempre mais. Nunca houve uma reclamação sobre pagamento. Nunca houve uma reclamação sobre maus tratos, autoritarismo, abuso de poder ou algo parecido.
Na fabrica de tecidos era a mesma coisa, só com a diferença de ter menos amigos por passar a maior parte do tempo nos vinhedos.
Um dia um grupo de amigos foi para sua casa convencê-lo a candidatar-se a prefeito.
Uma dificuldade.
Ele não queria de jeito nenhum.
foram duas semanas de conversa até que aceitou o desafio para evitar que um outro candidato inescrupuloso ganhasse a eleição pela segunda vez.
Lá foi Giuseppe para a guerra das urnas.
Lógo na primeira semana todos declaravam o voto nele. Por onde passava era aplaudido e abraçado.
Pouco depois Marino, o outro candidato, resolveu vasculhar a vida particular de Giuseppe. Apareceram amantes, filhos fora do casamento e até uma namorada da adolescência que abortou um filho de Giuseppe.
O mundo do senhor simpático e humanista veio abaixo.
Problemas com a mulher, problemas com as empresas e pela primeira vez na vida um sentimento desconhecido. Ficou com ódio de Marino.
Giuseppe admitiu tudo que lhe cabia, pensou em desistir, mas não era de sua estirpe.
Continuou na luta e pagou pra ver.
Em poucos dias funcionários e amigos pintaram as ruas de vermelho, mostravam as realizações do velho socialista que dava participação nos lucros aos funcionários. Do velho que começou trabalhando em uma colheitadeira e terminou dono de um patrimônio invejável.
Não haviam pesquisas na cidade.
O que se sabia é que o respeito por Giuseppe havia crescido.
O fato de reconhecer as atitudes do passado mostravam que ele estava ainda mais próximo do povo.
Marino estava transtornado. Parecia um louco. Falava absurdos, se repetia, vivia nervoso.
Giuseppe passou a se sentir melhor ainda. Se sentia mais leve percebendo que não tinha nenhum segredo. Se sentia feliz por fazer novos amigos.
Nos restaurantes entrava e era aplaudido. Pelas ruas andava a passos de tartaruga, tamanho era o apoio dos populares.
Claro que as urnas deram uma lição humilhante para Marino.
Marino também se dizia ao lado do povo.
Já havia ocupado o cargo anteriormente e suas realizações eram duvidosas.
No dia da posse teve vinho pra todo mundo.
O povo carregou Giuseppe nas costas enquanto Marino se contorcia de raiva.
Na prefeitura Giuseppe aplicou seus princípios de humildade e respeito. A cidade virou a mais próspera da região. No final do mandato ele voltou aos vinhos mais respeitado do que antes.
Passou anos lembrando da política de forma simples e descomplicada.
-Na minha empresa o dinheiro é meu, faço o que quiser. Lá o dinheiro é do povo, eles é que decidem o que fazer. Muito simples ouvir e fazer. Quando se está perto do povo, é claro...