Nem bem o barulho da porta
batendo desaparecia no ar, Gabriela já caía num choro incontrolável e já imaginava que teria sido a última imagem que veria do jovem Renzo.
Aqueles olhos verdes e o
formato de rosto que fazia com que todos lembrassem Sophia Loren, eram pura
água.
Se é que se pode chamar
lágrimas de água, mas acho que sim.
Durou pouco mais de 1 ano,
mas não foi um ano qualquer.
Tinha sido o melhor ano da vida de Gabriela.
Tinha sido o melhor ano da vida de Gabriela.
Ela 23, ele 37.
Renzo estava na Toscana, com a
cabeça na Sicília.
Todos os dias colocava um
defeito, lembrava de algum costume, lembrava do sotaque, do sol e do mar
siciliano, que pra ele não tinham nada a ver com o sol e o mar da Toscana.
Veio para ficar um mês, se
apaixonou por Gabriela e ficou o ano todo.
Ele tinha um segredo que
usava nos vinhedos, que aumentava a quantidade de resveratrol nos vinhos, naturalmente.
Isso era um estouro para os
hipocondríacos e candidatos a vida eterna dos 4 cantos do mundo.
Por isso foi contratado por
Gabriela e acabou virando muito mais que um simples consultor em viticultura.
O amor de Gabriela e Renzo
era daqueles que todo mundo apostaria em sucesso.
Os dois viviam colados, faziam tudo juntos, viviam com prazer aquela convivência.
Os dois viviam colados, faziam tudo juntos, viviam com prazer aquela convivência.
Gabriela fazia o tudo por
ele.
Tentava fazer com que ele se
adaptasse, apresentava amigos, família, mostrava o que a Toscana tinha de bom e
dava a ele todo o amor que tinha.
Renzo parecia bem, parecia
feliz.
Mas no fundo, nem o trabalho nos vinhedos davam alegria a Renzo.
Mas no fundo, nem o trabalho nos vinhedos davam alegria a Renzo.
Chegaram a viajar para a
Córsega uma semana antes da despedida.
Viajaram, se amaram, fizeram
juras de amor.
Na volta pra casa tudo estava
bem, até que veio um convite de um importador para que Gabriela fosse ao Brasil
divulgar seus vinhos.
Na hora Renzo disse: não vai.
Gabriela nem pestanejou e
respondeu: claro que vou.
Isso foi só o estopim
para várias queixas que estavam na garganta de Renzo.
Queixas que Gabriela nem
imaginava.
Ela tinha dado tudo que tinha
pra dar.
Depois das queixas veio a decisão que parecia ter sido planejada há dias: Vou embora. Vou procurar uma passagem pra Sicilia
e volto pra minha terra o quanto antes.
Ao invés de gritos e dramas, Gabriela aceitou como quem aceita a morte.
Aceitar algo inevitável, quando se fez tudo para evitar é sensato.
O clima era de calma.
O vinho de todas as noites
foi aberto da mesma forma.
Beberam, brindaram ao amor,
dormiram, beijaram.
No dia da partida o coração
de Gabriela ardia, o estômago dava um nó, pela garganta não passava ar para
pronunciar nada.
Claro que era melhor não ir
até a estação de trem.
Renzo arrumou as malas, deu um
último beijo em Gabriela e foi embora.
Levou com ele o segredo do
resveratrol e a incerteza de ter ou não feito a coisa certa.
Levou embora o sonho de
Gabriela.
O barulho da porta demorou
pra desaparecer, o rosto de Renzo não desapareceu até hoje, o calor do abraço
nem pensar.
O vinho cheio de resveratrol
sim, desapareceu inteiro rumo aos Estados Unidos.
-A imortalidade encanta
aquela gente, que se enche de pílulas, hamburger e Coca-Cola...