domingo, dezembro 23, 2012

Gabriela não vai esquecer Renzo. Nem a bomba de resveratrol

 


Nem bem o barulho da porta batendo desaparecia no ar, Gabriela já caía num choro incontrolável e já imaginava que teria sido a última imagem que veria do jovem Renzo.

Aqueles olhos verdes e o formato de rosto que fazia com que todos lembrassem Sophia Loren, eram pura água.

Se é que se pode chamar lágrimas de água, mas acho que sim.

Durou pouco mais de 1 ano, mas não foi um ano qualquer. 
Tinha sido o melhor ano da vida de Gabriela.

Ela 23, ele 37.

Renzo estava na Toscana, com a cabeça na Sicília.

Todos os dias colocava um defeito, lembrava de algum costume, lembrava do sotaque, do sol e do mar siciliano, que pra ele não tinham nada a ver com o sol e o mar da Toscana.

Veio para ficar um mês, se apaixonou por Gabriela e ficou o ano todo.

Ele tinha um segredo que usava nos vinhedos, que aumentava a quantidade de resveratrol nos vinhos, naturalmente.

Isso era um estouro para os hipocondríacos e candidatos a vida eterna dos 4 cantos do mundo.

Por isso foi contratado por Gabriela e acabou virando muito mais que um simples consultor em viticultura.

O amor de Gabriela e Renzo era daqueles que todo mundo apostaria em sucesso.
Os dois viviam colados, faziam tudo juntos, viviam com prazer aquela convivência.

Gabriela fazia o tudo por ele.

Tentava fazer com que ele se adaptasse, apresentava amigos, família, mostrava o que a Toscana tinha de bom e dava a ele todo o amor que tinha.

Renzo parecia bem, parecia feliz.
Mas no fundo, nem o trabalho nos vinhedos davam alegria a Renzo.

Chegaram a viajar para a Córsega uma semana antes da despedida.


Viajaram, se amaram, fizeram juras de amor.

Na volta pra casa tudo estava bem, até que veio um convite de um importador para que Gabriela fosse ao Brasil divulgar seus vinhos.

Na hora Renzo disse: não vai.

Gabriela nem pestanejou e respondeu: claro que vou.

Isso foi só o estopim para várias queixas que estavam na garganta de Renzo.

Queixas que Gabriela nem imaginava.

Ela tinha dado tudo que tinha pra dar.

Depois das queixas veio a decisão que parecia ter sido planejada há dias: Vou embora. Vou procurar uma passagem pra Sicilia e volto pra minha terra o quanto antes.

Ao invés de gritos e dramas, Gabriela aceitou como quem aceita a morte.

Aceitar algo inevitável, quando se fez tudo para evitar é sensato.

O clima era de calma.

O vinho de todas as noites foi aberto da mesma forma.

Beberam, brindaram ao amor, dormiram, beijaram.

No dia da partida o coração de Gabriela ardia, o estômago dava um nó, pela garganta não passava ar para pronunciar nada.

Claro que era melhor não ir até a estação de trem.

Renzo arrumou as malas, deu um último beijo em Gabriela e foi embora.

Levou com ele o segredo do resveratrol e a incerteza de ter ou não feito a coisa certa.

Levou embora o sonho de Gabriela.

O barulho da porta demorou pra desaparecer, o rosto de Renzo não desapareceu até hoje, o calor do abraço nem pensar.

O vinho cheio de resveratrol sim, desapareceu inteiro rumo aos Estados Unidos.

-A imortalidade encanta aquela gente, que se enche de pílulas, hamburger e Coca-Cola...

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