quinta-feira, agosto 13, 2015
Malena acertava tudo. Conto
Malena tinha um humor fora do normal.
Não precisava motivos para rir, não precisava motivos para fazer brincadeiras e deixar qualquer um de cabelo em pé.
Levava a vida de uma forma leve, sem sustos, sem solavancos, sem barulho e nem silencio.
Silenciosa era a colheitadeira que pegou emprestada para testar e fazer propaganda entre os vizinhos.
Silenciosa, eficiente, rápida...
A estratégia de marketing que ela escolheu para ajudar o namorado a vender a máquina era um pouco, digamos... Diferente.
Enquanto todos colhiam as brancas, na encantadora e inigualável Côte de Beaune, Malena ficou quieta, sem mexer em uma uva.
Todos achavam estranho que aquela francêsa, filha de espanhóis deixasse as uvas no pé quando as sementes já estavam crocantes e as polpas doces como mel.
O que ninguém esperava é que no dia seguinte do fim da colheita, os pés dos vinhedos de Malena estivessem mais vazios que os dos vizinhos.
-Como pode isso?
-Quem mexeu nessas uvas???
-Mistério...
Malena desapareceu para que o mistério ganhasse proporções estratosféricas (em termos de Borgonha).
Até a tv francesa havia ligado para saber o que tinha acontecido.
Ovnis???
Ets disfarçados de camponeses???
Mas como ninguém viu nada???
Malena poderia ser menos paciente, mas esperou por uma semana até dar o ar da graça.
Teve ainda a inteligência de fazer a ação durante a colheita das brancas, esperando que o sucesso viesse na hora da colheita das tintas.
Apareceu e a casa onde morava ficou cercada por curiosos, fotógrafos, cinegrafistas... Tudo.
Todo tipo de desocupado e até ocupados distraídos foram para lá.
Os pés estavam mais pelados que madrinha de bateria de escola de samba.
Malena apareceu para uma verdadeira coletiva para pouca imprensa, mas muitos curiosos.
Bonita como sempre.
Olhos negros, cabelos negros, alta, corpo escultural e um sorriso que só quem viu pode saber. Impossível descrever.
-Não entendi porque tanta agitação. Foi tão simples colher essas uvas...
Tão rápido, tão silencioso, tão fácil.
Os ares holywoodianos estavam programados para agora.
Atrás de Malena a cortina tinha que abrir e a tal máquina aparecer...
Mas...
Malena pensava em tudo, mas não tinha controle sobre o que não participava.
Michel era o responsável pela engenhoca, que viria seguida de uma queima de fogos e chuva de papel picado.
A cortina caiu...
Os fogos por sorte não explodiram e o papel picado caiu todo no mesmo lugar, como se fosse uma bomba jogada bem em cima da colheitadeira, que já estava ligada e soltando fumaça.
Michel acelerou e a colheitadeira saiu quase atropelando todo mundo.
Nenhum barulho, mas muita confusão.
Michel são sabia dirigir, mas cismou de andar com a colheitadeira.
Passou por cima dos vinhedos, desceu ladeira abaixo até capotar de forma grotesca e felizmente sem nenhum arranhão.
Malena gostava de Michel assim mesmo.
Desajeitado e ineficiente.
As pessoas queriam saber da colheitadeira mas viram um espetáculo de pastelão.
Até que Malena levantou com calma e formosura, andou entre os vinhedos, falou do funcionamento da máquina, mostrou como as uvas saíam dos pés, mostrou como era barato, rapido e eficiente o trabalho mecânico.
Michel ainda limpava a roupa, tirava galhos da testa (sem trocadilho) e reclamava da ladeira.
Os pedidos foram imediatos.
O acidente parecia parte do show.
Com Malena até o errado dava certo...
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