quinta-feira, julho 18, 2013

O que é mesmo essa tal de “drinkability”? por Alessandro Pinesso*




A palavra inglesa drinkability é muito usada em degustações e sites específicos. A acepção original fala de potabilidade, referindo-se à agua de beber. Hoje, o termo se aplica a cervejas que podem ser bebidas em maiores quantidades ou que são mais “fáceis” de beber.

Daí se apreende que é uma definição um tanto subjetiva, já que algumas cervejas podem ser fáceis de beber para uns e intragáveis para outros. Falando em extremos, uma lager comercial de baixo custo quase sempre tem ótima drinkability, mas, geralmente, este é seu único atributo... Já uma ale robusta, de alto teor alcoólico e amargor, pode ter drinkability reduzida, do tipo que se bebe apenas uma taça e ponto.

No amplo universo cervejeiro, há aqueles que se denominam “lupulomaníacos”, ou seja, apreciadores de rótulos que contenham fartas doses de lúpulo, principalmente as variedades norte-americanas, mais potentes e aromáticas. Para quem não sabe, lúpulo é a planta empregada para proporcionar amargor e outras propriedades sensoriais à cerveja, além de ser um conservante natural, já que é bacteriostático.

Ocorre que, em excesso, o lúpulo provoca aquela sensação estranha de “boca amarrada”, semelhante ao que acontece quando comemos banana verde. Eu particularmente fujo de cervejas hiperlupuladas, prefiro rótulos que priorizam o equilíbrio. 

No outro lado da moeda, está o brasileiro médio, acostumado a décadas de lagers pouco inspiradas, que escolhe cervejas de baixíssimo amargor para beber quantidades industriais. Já ouvi n vezes que cervejas de amargor médio, um pouco mais encorpadas, como Heineken e Serra Malte, são “amargas demais”. Bem, se a pessoa não tolera nem o amargor destes rótulos, então jamais conseguirá apreciar uma cerveja em sua plenitude. Fazendo um paralelo com os vinhos, seria como alguém que não bebe espumantes brut ou um Cabernet Sauvignon sul-americano. 

É importante acrescentar que nem todas as boas cervejas têm a drinkability como uma de suas qualidades. Alguns estilos são mesmo mais restritos por diversos fatores nem sempre relacionados ao gosto pessoal. Isso sem falar que tudo depende da temperatura ambiente e do alimento que será consumido. Cervejas mais encorpadas encontram condições ideais nos dias mais frios e ao lado de pratos mais consistentes e vice-versa.

Fica a sugestão de experimentar diversos rótulos e estilos, criando seu repertório cervejeiro. E, claro, ter a cabeça aberta para provar o desconhecido e, muitas vezes, ter ótimas surpresas!

*Alessandro Pinesso é sommelier de cervejas formado pela Associação Brasileira de Sommeliers (ABS) e Association de la Sommellerie Internationale e Mestre em Estilos Cervejeiros pelo Instituto da Cerveja Brasil, associado ao Brewers Association dos EUA.

E-mail: pinesso@gmail.com

2 comentários:

Anônimo disse...

Lúpulo não é bactericida, é bacteriostático. Ou seja, ele não mata as bactérias e sim estabiliza o meio para que elas não cresçam mais.

Alessandro Pinesso disse...

Tem razão, foi um pequeno erro de semântica, obrigado pela correção.

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