quarta-feira, setembro 23, 2020

Morreu Pierre Troisgros, o precursor da Nouvelle Cuisine. E eu tenho uma história pra contar.





Pierre Troisgros, tinha 92 anos. 

Era considerado um dos 3 grandes chefs da história da gastronomia, junto com Joël Rebouchon e Paul Bocuse (amigo de Pierre e ícone da Nouvelle Cuisine). 

Era o único vivo.

O restaurante Maison Troisgros, em Roane, tem 3 estrelas Michelin desde 1968 e já foi considerado o melhor restaurante do mundo.

Eu conversei com Pierre Troisgros e a conversa foi inesquecível por dois motivos.

Primeiro por estar diante dele. 

Em segundo lugar, porque a entrevista não foi gravada, talvez pela emoção.

Eu estava no Toques et Clochers, em Limoux.

O evento é composto por uma degustação de vinhos base de espumantes, um leilão das barricas que foram degustadas e um grande jantar de gala, com presença de chefs estrelados para provar pratos de chefs estrelados convidados.

Toda a renda vai para a restauração de uma torre medieval, das tantas que existem na região.

No ano em que fui, o Rio de Janeiro foi homenageado, e portanto, os chefs convidados eram: Claude Troisgros (filho do Pierre), Rolland Villard e Roberta Sudbrack. Uma brasileira e dois franceses com uma grande história no Brasil.

Conversei com o Claude Troisgros e perguntei se poderia entrevistar seu pai. Ele sempre gentil me respondeu que sim, mas desde que fosse em francês.

Topei na hora, era o que eu queria.

Liguei a câmera (será?), fiquei frente a frente com a história da gastronomia, respirei fundo e comecei.

Foram cerca de 10 minutos de encantamento. Cada palavra, sempre muito bem pronunciada, sempre dirigida com elegância, cada história... Parece que senti o gosto do Saumon à L'Oseille. Foi o primeiro prato que estampou o principal jornal da época com os dizeres: Nasceu a Nouvelle Cuisine... 

Era um senhor, sorridente e gentil.

Terminei a entrevista, agradeci profundamente e voltei para minha mesa. 

Quando liguei a câmera para ver o que tinha gravado, não tinha nada.

Algumas vezes acontece de achar que o REC está apertado e não está, mas não poderia ter sido desta vez.

Erro fatal. Imperdoável.

Não tive coragem de voltar, de perguntar tudo de novo, de incomodar...

Conversei com outro jornalista, um francês que estava na minha mesa, para saber se ele poderia fazer a entrevista e dividiríamos. 

Ele respondeu que o significado de Pierre era tão grande, que ele teria que refletir...

Medroso...

Logo depois ele me negou a ajuda.

Mais um pouco depois e vi com meus próprios olhos ele gravando com o celular, cara a cara com o grande Pierre...

Coisas da vida. 

Não era para ter sido gravado.

Abaixo a reportagem que fiz no Toques et Clochers, com a presença do Pierre.






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