segunda-feira, setembro 22, 2014

Timidez, Vinho do Porto e Final Feliz!!!




Faz 5 anos que Nuno passa todas as manhãs na loja de um produtor de vinhos do Porto em Vila Nova de Gaia. 
A passagem era principalmente para ver Vera.
Os olhos castanhos claros, o rosto de traços finos, olhar misterioso e simpatia bem longe do comum pegaram o tímido Nuno de um jeito que a vida não teria sentido sem esses 15 minutos diários.
A timidez atrapalhava Nuno em tudo. Emprego, relacionamento com os clientes e claro, na vida social.
Teve algumas namoradas, poucas que tomaram a iniciativa diante de um rapaz, alto, magro, educado e respeitador.
Tudo isso estava no limite entre o elogio e a crítica.
Gostava de alguém (nos últimos 5 anos era Vera) e não tomava nenhuma iniciativa. 

Olhava, conversava coisas sem importância e só.
Todos sabiam o motivo das visitas de Nuno. 

Em casa guardava uma coleção invejável de garrafas de vinho do Porto.
Fernando bem que tentava encorajar Nuno, mas em vão.
Numa tarde de inverno, quando a noite já dava as caras lá pelas 5, Nuno foi até Gaia, resolveu esperar por Vera.
Quando um carro vermelho parou no meio fio, Nuno viu a leveza de Vera saindo da loja para entrar imediatamente no carro.
O coração de Nuno disparou. Sentiu calafrios.
Vera caiu nos Braços de um senhor calvo, que arrancou com o carro e subiu pelas ladeiras de Vila Nova de Gaia.
Uma dor estranha incomodou Nuno. 

Um frio na barriga, coração na boca, desespero.
Os olhos verdes de Nuno estavam tão cheios d´água, que voltar pra casa era uma aventura.
Difícil enxergar, pensar, dirigir.
Nuno bebeu uma pequena parcela do que tinha guardado em 5 anos.
Acordou, bebeu mais um pouco. 

Pegou o carro, passou a ponte D. Luis e ficou frente a frente com Vera.
-Pena que tenhas um namorado, estou há 5 anos pensando em ti!
-Que namorado é esse que me arrumastes?
-Aquele do carro vermelho.
Vera riu de euforia e graça.
Nuno espantado perguntou: qual o motivo de tanto riso. 

Não vê que a minha timidez me tirou o que mais queria?
-Vejo que sua timidez não existe mais, assim como o meu namorado. 

Aquele é meu irmão que mora na França. 
Veio de férias!
Um alívio fez outra vez o coração de Nuno disparar, o frio na barriga só não foi maior pelo relaxamento provocado pelo vinho do Porto.
Um longo suspiro, uma dose extra de coragem e o beijo.
A loja parou.
O tempo parou.
Aquele minuto valeu por cinco anos.
Dali pra frente os anos foram mais fáceis. 

Nuno encontrou um emprego melhor, Vera ficou aliviada da espera de 5 anos e a loja do produtor de vinhos do porto perdeu o cliente. Pelo menos enquanto durar o estoque de Nuno...

Nenhum comentário:

Carta Aberta da Vinícola Aurora

Carta aberta da Vinícola Aurora à sociedade brasileira   No início do século passado, algumas famílias italianas cruzaram o Atlântico à pr...