domingo, fevereiro 02, 2014

Vinhos, Nomes, Rótulos e um Advogado Siciliano

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Prosela andava pelo centro de Firenze quando viu bem no centro da vitrine de uma loja de vinhos um rótulo bastante parecido com o rótulo do seu vinho. Baixou um pouco os óculos e viu que o nome era idêntico, mas o vinho era outro. 
Ficou furiosa. 
Num acesso de raiva, invadiu a loja e comprou o vinho para ver do que se tratava. 
Um vinho do Abruzzo. 
O dela era da Toscana. 
Levou pra casa as 3 garrafas e começou a fazer o que havia programado para cada uma delas. A primeira enviou para seu advogado. Um siciliano baixinho que falava mais baixo ainda, mas tinha expressões que assustavam até um cego a 20 metros de distância.
A segunda provou e inesperadamente se encantou com o vinho. A terceira foi comprada para atirar no muro da casa e ver espatifada no chão, mas não teve coragem.
O seu vinho também se chamava Luna, obviamente mostrava uma lua crescente, assim como o vinho do Abruzzo, mas realmente não era tão bom. Era simples e mais caro que o vinho do Abruzzo.
O advogado siciliano apareceu rápido, com o terno surrado, o cabelo oleoso e a caspa manchando de branco as listras azuis do paletó.
Marcaram audiência de reconciliação. 

O juiz concordou que o rótulo era igual, o nome era o mesmo e o vinho toscano havia nascido antes, mas Lourenço simplificou a história: Meu vinho tem o mesmo nome pelo simples fato de que a lua não tem dono e se tem algum prejudicado esse alguém sou eu, que posso ter meu vinho confundido com essa porcaria.
O sangue siciliano esquentou, Marino olhou para o juiz daquele jeito mortal e o juiz claramente amedrontado disse: Não entramos no assunto qualidade, já que se trata de um assunto que envolve gosto pessoal, no entanto vale quem deu o nome primeiro.
Lourenço então desafiou: Vamos sair deste ambiente. 

Vossa excelência com certeza almoça e com certeza bebe uma taça de vinho, então fazemos o teste: o melhor vinho escolhe o nome que quiser.
Lá foram eles. 

O juiz olhava para os lados para que não vissem o precedente que havia aberto.
Sentaram, pediram as taças e Marino pegou um lenço e vendou os olhos do juiz. 

Não sei se ficou aliviado por não precisar olhar para o rosto de Marino ou se ficou preocupado com a cena que protagonizava.
Provou os vinhos e...
-o primeiro realmente é muito bom, o segundo, me perdoem, mas é uma porcaria.
O olhar siciliano ficou mais fundo, mais intenso, mais assustador.
Lourenço apenas disse: Bom degustador excelência!
-Escolho trocar o nome. 

Não quero que confundam meu vinho com esta porcaria!
O olhar de Marino surpreendentemente amaciou, ficou mais leve.
-Ganhei mais uma excelência!
-Ganhou?
-Sim continuo com o nome.
-Neste caso levou a melhor quem perdeu nome. 

Ficou com o melhor vinho...

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