terça-feira, setembro 03, 2013

Entre Nacho e Paco, estava Almudena.




Quem viveu o inverno de 1985 na Espanha sabe o que Almudena, Nacho e Paco passaram.
A neve tomou conta não só dos vinhedos, mas de cada rua da pequena Valdearcos de la Vega, na Ribera del Duero.
Almudena não tinha namorado.
Era lindíssima, mas era cheia de história.
Levava em banho maria Paco e Nacho.
Nacho era mais abusado e sempre saía na frente de Paco.
Paco era romântico e, enquanto estava indo, Nacho estava voltando.
Para ela tudo ía bem, era disputada e se achava (e realmente era) a única joia do lugar.
O frio era tão intenso que, a vinícola de Almudena, na época ainda longe dos avanços tencológicos, precisou de cuidados para que os vinhos não congelassem nas garrafas que repousavam.
Era incrível a dedicação de Paco e Nacho para que nada acontecesse de ruim com os vinhos ou com Almudena.
Nacho era alto, magro, olhos negros, costeleta até o meio do rosto e um olhar que fazia Almudena virar o rosto para não perder o controle.
Paco tinha 1,70m, mais pra gordo do que pra magro, olhos verdes escuros e muita simpatia.
Não existia gentileza que Paco ainda não tivesse feito para conquistar o coração de Almudena.
Todas as noites ela se encontrava com um ou outro, ou até com os dois.
Nacho trocava beijos e carícias, Paco trocava confissões, levava sempre um mimo e encantava Almudena com palavras doces e uma cultura fora do normal.
Os dois "rivais" até que se davam bem, na medida do possível, já que o interesse comum impedia troca de confidências e uma aproximação maior.
Em uma das noites mais frias da história da Espanha, Paco chegou com queijos, embutidos e uma caixa de chocolates.
A neve veio forte e Nacho não conseguia chegar.
A conversa fluiu, as taças brindavam quase que sozinhas e a lareira fazia um clima que as conversas de Paco, normalmente inocentes, desta vez eram mais quentes, o vinho fazia bem.
A música tocava suave, quando Paco resolveu olhar pra fora e ver a neve. Pensou em chamar Almudena, mas quando viu Nacho se aproximar à duras penas, se esquivando com seu corpo fino do vento e da neve, fechou a janela e aumentou o som.
Nem ele nem Almudena se incomodavam com a hora, com a neve ou com o som ainda alto.
Ele bem que escutava batidas na porta, mas aproveitava para falar alto também e dar risadas de histórias que acabara de inventar.
A noite foi inesquecível.
Pela manhã, ao sair pela adega, Paco apenas pulou o corpo de Nacho envolto em todo tipo de pano para fugir do frio.
Almudena tratou de fazer um café bem quente, oferecer a banheira para uma imersão e cuidar como podia de Nacho.
Mais tarde um telefonema de Almudena encerrou a disputa:
Paco, te quiero... gracias por darme la noche mas hermosa de mi vida...
Depois de uma gripe, que virou pneumonia, Nacho desculpou Paco, conheceu Vitória e os 4 se casaram no mesmo dia.
No verão, é claro.

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