O estilo Stout é
tipicamente inglês, embora tenha alargado suas fronteiras graças
ao sucesso da irlandesa Guinness. São cervejas escuras, com forte aroma e sabor
de tostado. Sua cor negra “engana” os desavisados, pois, embora tenha bom corpo
e sabor característico, nem sempre apresenta teor alcoólico elevado. A citada
Guinness, por exemplo, possui apenas 4% de álcool, menos que todas as lagers de
consumo de massa no Brasil.
Porém, como o tema de hoje é cerveja
forte, não poderíamos ignorar os rótulos do estilo Russian Imperial Stout,
muito apreciados – e produzidos – pelos cervejeiros artesanais, principalmente
norte-americanos. O nome desta verdadeira pancada em forma de cerveja remonta
ao século XVIII, quando era
exportada da Inglaterra para a corte de Catarina II, imperatriz da Rússia.
A maioria delas combina muito bem
com chocolate e sobremesas afins. Queijos mais intensos, como roquefort ou
gorgonzola, também podem ser uma boa escolha. Nos dias frios, há quem as
consuma à temperatura ambiente, mas, se quiser um pouco mais de frescor, não
deixe por muito tempo na geladeira, no máximo uma hora. Caso contrário, o
amargor se torna desagradável e a complexidade de aromas e sabores não se
desprende com as baixas temperaturas.
Como nota de rodapé, o termo
“Imperial” volta e meia é adotado em outros estilos cervejeiros. Nesses casos, trata-se de exemplares
mais alcoólicos e encorpados que as versões convencionais do mesmo estilo.
Alguns rótulos:
Colorado Ithaca
Cervejaria Colorado – Brasil – 10,5%
de álcool
Uma bela criação dos cervejeiros de
Ribeirão Preto (SP), com adição de rapadura queimada. Ao despejá-la no copo, o
líquido marrom escuro é recoberto por uma fina camada de espuma bege que se
desfaz rapidamente. Os aromas se desprendem com facilidade, licor, ameixa,
rapadura, vinho do Porto, café, tostado, dulçor do açúcar e das doses cavalares
de malte. Na boca, o álcool provoca aquecimento, estimulando as papilas
gustativas para uma explosão de malte, açúcar queimado e um toque de lúpulo,
numa batalha ferrenha entre o adocicado e o amargo. Pode ser guardada por
vários anos, pois suas características permitem a maturação na garrafa. O
primeiro lote foi produzido em 2009, mas, como consta do site da cervejaria,
creio que esteja de volta às boas casas do ramo.
Calavera Imperial Stout
Microcerveceria Gourmet Calavera –
México – 9,0% de álcool
Em sua formulação, consta a adição
de chiles, uma pimenta tipicamente mexicana. Negra, opaca, produz uma generosa
camada de espuma bege de boa duração. Aromas de chocolate, caramelo, passas e
frutas secas. O lúpulo britânico, em boa quantidade, faz um bom contraponto ao
caráter frutada e levemente defumado desta cerveja. O sabor segue o aroma, com
um leve defumado e o apimentado dos chiles “cortando” o dulçor do malte.
Rogue Double Chocolate Stout
Rogue
Brewery – Newport, Oregon – EUA – 9,0% de álcool
Cerveja negra, com boa espuma, com
aroma de chocolate ao leite, avelã, lúpulo, café e malte, com destaque para o
chocolate holandês adicionado no processo. Na boca, o lúpulo se faz mais
presente, contrastando com o tostado e a forte carga de maltes empregados. Ao
contrário do que o nome possa sugerir, não é uma cerveja adocicada, lembrando o
verdadeiro cacau, mais amargo e intenso.
*Alessandro Pinesso é sommelier de cervejas formado pela
Associação Brasileira de Sommeliers (ABS) e Association de la Sommellerie
Internationale e Mestre em Estilos Cervejeiros pelo Instituto da Cerveja
Brasil, associado ao Brewers Association dos EUA.
E-mail: pinesso@gmail.com
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