quinta-feira, maio 31, 2012

Em Montalcino, amor de Marco e Mariela durou 3 anos...


18 vezes por semana Marco passava em frente ao portão da casa de Mariela e olhava cada detalhe.
Bem devagar.
Mariela aparecia metade das vezes, umas 7, 8...
Cada aparição um balançar de cabeça, bem discreto.
O estranho dessa história é que Marco é o cara mais cobiçado de Montalcino.
Não consegue passar despercebido nem na missa dominical.
Alto, cabelos negros, olhos verdes, corpo atlético.
Mariela é baixa, rosto maravilhoso, corpo nem tanto.
A cidade inteira quer trabalhar na colheita de Marco só para conviver alguns dias com ele.
Marco é cuidadoso com os vinhedos, não descuida nem um minuto.
As mãos vivem sujas e a roupa se limita a uma velha calça jeans e uma camisa de trabalho com uma camiseta branca por baixo, claro.
Nos finais de semana saía, se divertia...
Era impossível ficar em casa com tantos convites, principalmente de turistas que visitavam os vinhedos e se apaixonavam por aquele italiano.
Ele saía, se divertia, mas não tirava o pensamento de Mariela.
Ela era tímida, sem graça podemos dizer.
Quando saía de casa, ajudava o pai com a venda de barricas e mal levantava os olhos para olhar para os clientes.
Marco guardava em segredo sua paixão por Mariela, mas alguns amigos percebiam e se divertiam com tamanha contradição.
Ele namorava mulheres lindas, nunca mais de uma semana.
Ela não namorava ninguém, estudava muito, gostava de ler e de balançar a cabeça para Marco.
Naquela terça-feira, logo na 2 vez que Marco passava por lá, Luigi, o pai de Mariela, convidou o vizinho para entrar.
Mostrou um catálogo com diversas barricas, abriu uma garrafa de vinho e conversaram.
Mariela lia um livro e algumas vezes levantava os olhos para olhar Marco.
Depois de uma garrafa de vinho, Luigi falou sem nenhum rodeio: - Estou preocupado com minha filha. Ela não sai de casa, não namora, não se diverte...
Mariela escutou e olhou para o pai com olhar de reprovação e um suspiro.
Marco ouviu o suspiro e disse: - Teu pai tem razão. Por que não?
Aos poucos Mariela entrou no assunto e com o passar do tempo e o esvaziar da garrafa Luigi foi dormir e os dois puderam conversar até altas horas.
No dia seguinte não foi preciso passar pela porta 18 vezes. Na primeira passagem, Marco já chamou Mariela e a conversa do dia anterior se prolongou no caminho rodeado de vinhedos.
Ali aconteceu o primeiro beijo, mais tarde a primeira noite e nos próximos 3 anos diversas noites e sonhos vividos.
Com os vinhedos quase abandonados pela família de Marco, os dois deixaram Roma e voltaram para Montalcino.
O trabalho nos vinhedos se dividiam entre o trabalho para cuidar dos pais que já não eram tão fortes como antes.
Mariela passava mais tempo na antiga casa do que com Marco.
Ele não se dava mais ao trabalho de passar 18 vezes na porta da vizinha.
Até que Mariela ficou uma semana sem voltar pra casa.
Depois de 2 dias passou mais um mês na casa dos pais.
Nem sinal de Marco, nenhuma pergunta, nenhuma passagem em frente ao portão.
Numa tarde o velho Luigi foi admirar a maravilha dos vinhedos de Marco.
-Faz um belo trabalho aqui.
-Sim, Sr Luigi, aqui está um pouco da vida dos meus avós, tataravós, pais e a maior parte da minha alma.
Luigi olhou nos olhos do genro e lembrou das 18 vezes que passava na porta de Mariela. Lembrou do dia que deu um empurrão decisivo para a história dos dois.
Mas terminou surpreendentemente dizendo: cuide dos teus vinhedos rapaz. Parece que é a única coisa que sabe fazer…

2 comentários:

Beto Duarte disse...

Obrigado! Tua opinião vale muito.

Gloria Massarato disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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