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O barulho do telefone invadia a
casa.
Ninguém sabia se era um
sonho ou era realidade.
Não era hora
de telefonemas.
Florita pulou da
cama e atendeu logo: Allô...
-Vai
chover... Os vinhedos vão ser arruinados... Acordem todos... Vamos
colher...
A correria foi total.
Florita foi se vestindo no meio do
caminho.
O céu estava escuro,
ventava.
As caixas e as tesouras
foram distribuídas e o trabalho começou.
Rápido.
Florita era uma
panamenha que vivia em Paris até resolver ir para Bordeaux estudar enologia e
meter literalmente as mãos na massa.
Morena, olhos grandes castanhos, corpo perfeito e um sorriso capaz de
tirar do sério até o bispo.
Como
Marcel não é bispo nem nada, acordava, dormia e passava o dia pensando em
Florita.
Pensava nas curvas de
Florita, mas pensava também na estranha maturidade daquela menina de 24 anos
que deixou seu país aos 20 sem falar uma palavra de francês.
Hoje Florita fala como uma mulher de 40
anos, mas com um corpo bem mais jóvem, um sorriso bem mais vivo. A correria terminou com os últimos
cachos colhidos a exatos 5 minutos do maior temporal daquele ano de 2002.
Marcel se aproximou e enquanto pagava
pelo trabalho da colheita olhava com os olhos fixos para a alma de
Florita.
-Vai para a cidade?
-Sim, volto pra casa e ano que vem ja
serei uma enóloga.
Marcel pegou o
carro e levou Florita pra casa, mas a timidez desse cara de 27 anos impedia
qualquer avanço. Florita bem que
tentou.
Um olhar fulminante antes
de descer do carro só serviu para deicar a cabeça de Marcel em parafuso.
Errou até o caminho de volta.
Telefonou algumas vezes, mas falava
pouco e não avançava nada.
Demorou
6 meses até que florita terminasse a faculdade para que os dois se encontrassem
mais uma vez.
O convite foi aceito
e na festa de formatura Marcel percebeu que a hora tinha chegado.
Se aproximou, olhou mais uma vez para a
alma de Florita e beijou.
Longo.
Doce.
Infinito.
A noite vai ficar na memória dos dois.
O convite para trabalhar na Itália era
irrecusável e Florita mais uma vez seguiu seu caminho.
Ela até marcou uma despedida na estação
de trem, mas Marcel preferiu ficar em casa.
As uvas colhidas às pressas viraram um bom vinho e uma cuvée
especial foi criada: Cuvée de la Petite Fleur... Florita para você!
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