Junte num caldeirão daqueles de bruxa uma colher de desespero, uma pá de dívidas, uma bacia de incerteza e apenas uma pitada de esperança.
Foi nessa pitada que o jovem Andrea se apegou para criar um vinho que povoa o sonho de qualquer enófilo que se preze.
Nos anos 90 a vinícola estava completamente falida.
Se arrastou até o terrível ano de 2002, quando a safra ruim não permitiu que Andrea enchesse uma única garrafa.
Dos tempos difíceis Andréa guardou um terno bem cortado e uma gravata vermelha com um lenço azul claro na lapela.
Guardou também a lembrança traumática do dia da venda da vinícola.
Gianmarco pagou cada centavo das dívidas de Andrea e ficou com os vinhedos, as barricas, os tanques e a tradição.
Para Andrea a princípio não havia sobrado nada, mas só a principio.
Na verdade o conhecimento guardado em baixo daqueles cabelos negros apesar dos 57 anos era um patrimônio e tanto.
Com o pouco dinheiro que pegou pela vinícola, Andréa plantou 1 hectare de vinhedos, conseguiu mais dois hectares emprestados de um produtor de idade avançada que não queria e não podia mais trabalhar com tanta dedicação.
Na primeira colheita Andrea trabalhou com a ajuda dos amigos. Colheram, emprestaram tanques, barricas, mas quem cuidava do vinho e da vinificação era Andréa.
A produção foi pequena e as garrafas desapareceram apenas com os amigos que sabiam exatamente do que Andrea era capaz.
Aliás Andréa era amigo de todos os moradores da região e era conhecido em toda a Toscana, mas nesse momento apenas 4 ou 5 continuaram merecendo esse título.
Na segunda colheita Andréa conseguiu mais hectares e um envio aos Estados Unidos que lhe rendeu 95 pontos do famoso crítico americano.
Aí foi uma loucura.
Os trabalhos na vinícola que foi de Andrea continuavam, mas os vinhos pararam no esquecimento.
Foi aí que os 4 ou 5 amigos (não sei ao certo) compraram tudo que havia sido de Andréa.
Arrumaram como nos velhos tempos, pegaram as garrafas antigas que ainda repousavam na adega e aí sim, convidaram Andréa para uma festa.
Recomendação: é obrigatório o uso de terno.
Quando Andréa chegou foi logo encapuzado e levado no meio a uma série de brincadeiras para o local “desconhecido”.
Quando o capuz foi tirado, os amigos deram apenas uma informação: viramos o jogo, recuperamos o teu tesouro que em mãos estranhas não passa de um pedaço de terra.
O lenço da lapela virou lenço de enxugar lágrimas, os 4 ou 5 amigos viraram sócios, os vinhos mal feitos dos tanques foram para o ralo e uma pitada de vitória mudou completamente o conteúdo do caldeirão.
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