-Acabou Ornella. Não posso viver assim esperando que se importe comigo.
-Ficou louco Pietro! Claro que me importo.
-O que fala não combina com tuas atitudes. É isso. Acabou!
Por 4 anos Ornella olhava para Pietro durante todo o dia. Passava horas ao lado dele na época da poda verde, na amarração dos galhos, na colheita, na seleção das uvas, em tudo.
Por 6 anos Pietro trocou a taça de vinho com os amigos pelos braços quentes, lisos, cheirosos de Ornella.
Por 10 anos dormiram juntos, às vezes abraçados, às vezes não.
A colheita de 2002 marcou uma nova fase para Pietro.
Ornella passou a ficar em casa cuidando da vida, do filho e com outros pensamentos e afazeres.
O inverno de 2003 foi terrível, pausa no trabalho com os vinhedos, pausa para ficar com Ornella, mas...
Ornella cuidava da casa e Pietro voltava ao convívio dos amigos.
O frio, o vinho, a casa com a lareira a todo vapor, o passado, nada animava Ornella.
Veio a primavera e o trabalho ficou mais duro.
Pietro cuidava sozinho daqueles 5 hectares em Rabajá.
O Barbaresco de Pietro era moderno, elegante, robusto.
Pietro é um jovem senhor de 39 anos. 1 metro e 80, magro, mas forte; duro, mas simpático; alegre, mas triste.
Ornella (ah Ornella), é belíssima. Não é alta nem baixa, magra nem gorda, é sensual.
Os olhos de Ornella são daqueles que penetram. O corpo parece uma escultura de autoria desconhecida. Sim pois quem assinaria tal obra não fosse o próprio criador.
A colheita de 2003 foi decisiva.
O trabalho correu normalmente.
As uvas estavam lindas, o trabalho foi impecável, as barricas de carvalho esloveno deram àqueles vinhos o que a pele de Ornella dava a Pietro no passado: macies, equilíbrio e felicidade para Pietro.
Vinhos engarrafados, malas prontas e Pietro saiu bem cedo.
A Nebia que dá o nome à Nebbiolo viu tudo.
Ornella só percebeu a saída de Pietro duas horas mais tarde. Pensou que tinha ido caçar.
Ao cair da noite Ornella encontrou Pietro bebendo vinho com os amigos e ele logo se levantou e explicou a situação para ela.
Ornella voltou pra casa e os lamentos de Pietro ficaram para Odoardo.
-Não quero mais viver no desprezo. Fico em outra casa, cuido dos vinhedos, vejo Ornella, converso o que for preciso, mas não volto a morar com ela. Hoje tenho apenas o lado ruim de Ornella. As cobranças, as satisfações que me cobra e a distância que me impõe.
Na casa de Pietro a família se reunia para falar mal dele. Diziam que ele tinha outra mulher, que ele não prestava e que ela não devia mesmo ter casado com ele.
A vizinhança também não entendia como a bela e doce Ornella tinha sido abandonada de forma tão cruel.
Mariela, que desde os tempos de primário desejava Pietro estacionava sua moto sempre ao lado de onde ele estava.
Os amigos ,mais submissos foram proibidos de participar das noitadas inocentes de Pietro no único bar do vilarejo. Noitadas regadas a fotos do passado e lembranças de Ornella.
Foram exatos 2 anos.
Dois anos de solidão voluntária.
No verão de 2005 Ornella bateu na porta de Pietro.
-Posso entrar?
-Claro que sim.
A conversa foi longa, proveitosa e terminou como no passado.
Ornella voltou pra casa e começou assim o caminho de volta.
Todos os dias ia e voltava, namorava e voltava, chegava a pegar no sono, mas voltava.
Pietro descobriu a fórmula, Ornella também.
Duas casas, um caminho e uma pitada de solidão.
Até hoje os dois não voltaram a morar juntos e o vai e vem continua...
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