Quadro de James Macdonald
Gustaf chegou ao hotel numa terça-feira, chuvosa, dia sem graça.
O hotel também não agradava o gosto daquele franco-carioca que se tornou um dos melhores arquitetos da França.
Gustaf era arquiteto super especializado em vinícolas.
Foi responsável pelo que ele chamava: revolução arquitetônica dos vinhedos de Ribera del Duero.
Depois vieram pedidos de trabalho do mundo todo. Nesse dia chuvoso Gustaf se preparava para construir uma vinícola no Loire e o hotel tinha estilo tradicional por fora e moderno por dentro. Tinha um elevador panorâmico, que segundo Gustaf, era a cafonice em forma de meio de transporte.
Mal sabia ele que o elevador seria a sua melhor diversão para os próximos dois dias.
Logo depois do jantar, gustav abriu as paginas finais do livro as cariocas de Sérgio Porto quando percebeu a movimentação pelo saguão enquanto uma morena maravilhosa andava como se levitasse. A saia era minúscula, o sorriso enorme e as pernas...
Ela entrou, abriu a bolsa, deixou uma gorjeta para o manobrista e foi até o elevador.
Até o sério recepcionista do hotel levantou os olhos acompanhando a moça até o elevador.
Gustaf fez o mesmo e percebeu que ele se colocou com sua mini mini mini, ao lado do vidro do meio de transporte mais cafona do Loire.
O recepcionista fingiu torcicolo, o manobrista olhou na cara dura e Gustaf olhou como quem reprova, mas no fundo adorou a cena.
Cena que se repetiu na mesma noite por mais duas vezes.
Até o ponto em que gustav se sentou no wine bar, pediu uma garrafa e não saiu mais dali.
No dia seguinte o plantão continuou e as visões do paraíso também.
No outro dia ele se sentou no wine bar e esperava pela desinibida, mas ela não subiu. Melhor ainda, se sentou na mesa em frente com a mesma desenvoltura.
Gustaf suava!
Bebeu a garrafa quase inteira quando ela pediu uma sugestão de vinho.
Gustaf mais nervoso ainda sugeriu que ela se sentasse com ele e ela aceitou na hora.
Marina era jornalista especializada em vinhos, estava visitando os vinhedos do Loire, tinha acabado de entrevistar o grande Didier Dagueneau e seguia seu tour no dia seguinte na Borgonha. Quando Gustaf falou das bodegas que havia desenhado ela afirmou conhecer 90% do trabalho dele.
O sotaque de Marina deixava gustav intrigado.
-Italiana?
-Não, Brasileira.
-Não brinca, de onde?
-Ah você também?
-Sim nasci e vivi no Brasil até os 18 anos.
-Enfim de onde é?
-Rio de Janeiro
Nem bem a frase terminou e um rapaz alto, forte e com cara de poucos amigos chegou para buscar Marina.
Os dois saíram sob os olhares de inveja do Hall do hotel.
Gustav ainda levantou a voz e perguntou: de que bairro?
-Do Grajaú, é claro...
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