Provei o Libranza 2005 quando aconteceu a feira dos vinhos espanhóis, há um mês e meio em São Paulo. Essa é a postagem da época:
O Libranza 2005 tem uma cor violeta incrível. Transparente.
No nariz cerejas, cassis, violeta, cacau e alcaçuz.
na boca o ataque é impressionante, frutas enchem a boca, madeira muito bem integrada. torrefação e chocolate completam a festa.
Final longo e agradável.
São tantas mulheres no mundo do vinho que citar algum nome seria esquecer de grande parte. Rosa Maria Zarza, é enóloga da Bodegas y Pagos Matarredonda, de Toro, Espanha. Esta semana mereceu o anúncio de notas acima de 90 de Robert Parker para os vinhos que faz questão de dizer que não faz, elabora.
O Juan Rojo 2005 recebeu 90 Pontos e o Libranza 2005 92 pontos. O fato é que estas notas se tornaram rotina para os vinhos feitos com amor por Rosa.
Fiz algumas perguntas para ela, que terá os seus vinhos representados no Brasil, ainda este ano, pela Casa Flora.
Olá Rosa,
Os especialistas internacionais, principalmente Parker, são muito criticados pela influência que possuem no mercado e também sobre uma possível mudança nas características dos vinhos procurando agradar o seu gosto pessoal. Acredita que existe essa mudança (chamada parkeirização) nos vinhos?
É certo que a inclusão dos vinhos na lista elaborada por Parker, sempre assegura o interesse dos especialistas em vinho e do consumidor, ajudando a abrir portas para as vendas, sobretudo no mercado externo, porque uma coisa é elaborar um vinho que goste e outra é que este vinho precisa ser vendido. Ele ajuda a vender porque tem um gosto muito global dos vinhos, degusta de todos os lugares do mundo, não só de um país, mas eu digo que Parker não é quem compra meus vinhos, é o consumidor.
Os enólogos sofrem uma pressão dos donos das vinícolas para que os vinhos sejam bem pontuados ou basta a qualidade do ponto de vista dos consumidores?
Considero que a qualidade e as boas pontuações estão juntas, isso sim. Também penso que não se engana o consumidor. Se teu vinho está bem pontuado, mas não agrada o consumidor não está no bom caminho. No meu caso, as pontuações de Parker são como um exame que os vinhos precisam se submeter, como quando se apresenta a concursos ou outros guias. Se as pontuações são boas, os donos da bodega asseguram a confiança que tem em mim e eu tento melhorar essa confiança. É como quando está no colégio, tira boas notas e teus pais te dão uma bicicleta, continua se esforçando para que eles fiquem contentes e te recompensem.
Vejo tinhos de Toro de altíssima qualidade e com preços mais baixos que os vinhos de Duero. Qual a explicação?
A Denominação de Origem Toro, foi criada há menos tempo e ainda temos muito caminho por percorrer do ponto de vista da comercialização de nossos vinhos. É uma maneira de abrirmos mercado e competir com outras Denominações maiores com mais história, como Ribera del Duero, elaborar vinhos com alta qualidade e preços mais acessíveis.
Assim como na Bourgogne com a Pinot Noir, os vinhos de Tempranillo na Espanha são muito diferentes de uma região para outra. Isso é uma definição perfeita sobre a diferença entre os terroirs?
Sim, o Terroir não só é o tipo de terreno onde estão plantadas as vinhas, como o clima, todo o conjunto. Se vê claramente as diferenças no solo na planta, nas raízes, nos parâmetros das uvas e claro, o vinho. Um Tempranillo de Ribera de Duero tem mais acidez que um de Toro, por sua vez o Toro tem mais teor alcoólico, assim poderíamos fazer comparações com todas as demais variedades e regiões. Nenhuma é melhor nem pior que a outra, isso é o que define um vinho "Elaborado" de um vinho "Feito", que cada um guarda a personalidade do "Terroir", e isso nunca podemos perder.
O que me diz do terroir de Toro?
O Terroir de Toro da umas características aos vinhos que não encontraremos em outros lugares, já que é um terreno com uma camada arenosa bastante grossa em profundidade, não deixou que a Filoxera atacasse as vinhas com as quais temos o grande prazer de trabalhar vinhas de mais de 100 anos, com uma história muito grande para contar e que transmitem nos vinhos.
Quando se chega ao ponto de elaborar vinhos de altíssima qualidade, o que pensa sobre o futuro?
Elaborar vinhos melhores a cada ano, que o consumidor desfrute deles bem acompanhados, que fale deles e com eles e sobretudo que dentro de muitos anos estejam vivos e que quando alguém abra alguma garrafa desfrute como se bebesse agora. E também espero que no futuro siga desfrutando como agora do meu trabalho.
Se tivesse uma fórmula com as percentagens de cada ingrediente, qual seria a percentagem do enólogo, do terroir, do clima, da tecnologia, para elaborar vinhos com tanta qualidade e mais de 90 pontos Parker todos os anos?
Para elaborar um vinho de qualidade é um conjunto todo. Eu sempre digo que sozinha não poderia fazer-lo, além das minhas uvas, preciso do meu produtor Diego, o meu gerente Alfonso, a minha export manager Cecilia, aos meus podadores, aos que fazem a colheita, a todas as pessoas que me ajudam e me apoiam, e além disso, ajuda muito ter um bom ano climatológicamente falando, porque com tudo isso e com umas boas uvas precisamos menos tecnologia.
Existem muitas mulheres que são grandes degustadoras e grandes enólogas em todos os países produtores. Acredita que os vinhos elaborados por vocês têm uma característica especial?
Eu não era muito consciente disso, me dedicava a elaborar da minha maneira e só pensava em fazer algo realmente bom, mas com o tempo e as opiniões de profissionais e consumidores, me dei conta de que podemos ter alguma característica especial, mais fineza, vinhos mais redondos...
O que é muito claro é que a mão do enólogo seja mulher ou homem, fica marcada em um vinho "Elaborado".www.matarredonda.com
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