quinta-feira, julho 04, 2019

Nariz, boca... O vinho é pra beber ou pra cheirar?


Foto: Chico Cineasta

Olhar a cor, cheirar o vinho, girar a taça, cheirar de novo e beber...
É um ritual que parece um suspense antes do ato final e principal.
Imagine que se você não fizer nenhum suspense o ato final é suficiente para o veredito: gostei? não gostei? acompanhou bem a comida?
A cor não precisa harmonizar. Basta ser tinto, branco ou rosé para termos ideia do que vem pela frente.
Serve para saber se o vinho está jovem ou evoluído, já que os brancos e rosés escurecem com o tempo e o tinto perde a cor, vai ficando com aquela cor próxima ao tijolo.
O cheiro ou aroma ou bouquet, também dão muitos sinais sobre a qualidade do vinho.
Aroma é o termo usado para os vinhos com cheiro de frutas e é classificado como aromas primários.
Se tem primário tem os aromas secundários, que estão relacionados ao período de produção e fermentação, com cheiro que remete a nozes, madeira, fermento, pão, manteiga...
Do secundário ao terciário, já se pode usar o termo bouquet.
Não se trata de afetação ou snobismo, são termos técnicos que o consumidor não precisa usar, mas pode usar caso queira degustar tecnicamente.
Os cheiros secundários e terciários surgem durante o processo de produção e envelhecimento do vinhos, que pode ser na barrica ou na garrafa.
Os secundários vão do café, caramelo, chocolate, manteiga, baunilha; e para os mais envelhecidos quando o vinho traz os aromas provocados pela evolução, pelo tempo.
Os exemplos são os aromas de frutas secas, cogumelos, terra, carne defumada, dependendo um pouco da cor do vinho (branco, tinto, rosé, espumante).
Tudo isso não seria nada se o sabor fosse ruim. Desagradável.
Todo esse ritual pode ser desprezado se a finalidade é apenas beber um vinho, acompanhar a comida sem preocupação.
Não é preciso entender nada pra beber vinhos.
Degustar é prestar atenção no que estamos bebendo, e como beber é um ato simples, que remete a primeira refeição do ser humano, não tem mistério e nem precisa de nenhuma técnica. Todo mundo sabe beber qualquer líquido.
Mas se você quer degustar como um profissional, assim que colocar o líquido na boca, vai prestar atenção no peso do vinho (corpo), nos taninos (que dão aquela sensação granulada e secante de quando comemos banana verde ou caju), vai prestar atenção na acidez que te faz salivar e casa com os taninos como se tivessem nascido um para o outro. Também vai analisar o álcool, se ele queima ou pica a boca, desequilibrando o conjunto. Vai analisar o sabor, se ele é intenso ou leve, se ele é agradável, se ele é persistente, ficando na boca por mais tempo antes de desaparecer.
Não deve ser amargo, não deve ter nenhum item acima dos outros, com excessão do sabor.
E não pense que uma pessoa pode ter a capacidade de perceber tudo isso e você não.
É só praticar.
Não pense também que tudo isso é preciso.
Pode ter precisão, mas não é preciso.
É um ritual analítico que o consumidor pode seguir se quiser.
Pode curtir fazer isso ou pode achar chato e simplesmente beber.
Se olhar as notas que os críticos dão por aí (e eu me incluo), elas se referem a tudo isso, mas não são maiores do que o seu julgamento pessoal.
Se um vinho tiver os aromas fantásticos mas na boca não tiver equilíbrio e não for bom, ele não pode ter boa nota.
Simplesmente porque foi feito para beber.
Saúde!

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