sábado, setembro 05, 2015

Gilbert amava vinhos e música. Mas amava mais Jeanne. Conto



De novo eu uso uma música para ajudar a contar uma história.
É só dar um play e usar como trilha sonora...



Gilbert fazia vinhos fantásticos, músicas que eram pura poesia.
Conseguia manter as duas coisas separadas.
As músicas eram inspiradas pelo amor que sentia por Jeanne.
Os vinhos eram inspirados no que tinha aprendido com o avô, o pai, os filhos...
Sim, os mais jovens ensinam muita coisa.
Não existia um grande compositor francês que não conhecesse Gilbert.
E vários gravavam suas melodias e ficavam famosos com elas.
Jeanne tinha 1 metro e 65, olhar triste, esverdeado pelos olhos.
Era impenetrável no quesito sentimento.
Uma pedra.
Falava apenas o suficiente.
Era linda.
O corpo nem gordo nem magro, pernas, seios, tudo.
As letras fluíam como um rio.
Era se sentar, colocar o violão sobre as pernas e sair criando.
Os vinhos eram renomados, pontuados, disputados pelo mundo afora.
As músicas sempre tinham algo que lembrasse Jeanne.
Os vinhos sempre tinham algo do avô, do pai, dos filhos...
Num final de semana frio do inverno, Jeanne foi embora sem se despedir.
O sofrimento foi tão grande, que Gilbert não conseguia dormir, não conseguia despertar, não conseguia cuidar de nada que não fosse os vinhedos.
Acordava cedo e ía até altas horas.
Só queria saber dos vinhos.
Os olhos estavam sempre mareados, como se vivesse num choro sem fim e sofrimento profundo.
O violão começou a criar poeira, as músicas nem passavam pela sua cabeça.
Era difícil pensar em algo que não lembrasse Jeanne.
Se passar um dia sem ela era difícil, dessa vez ele aguentava meses.
Os vinhos seguiam com todo cuidado, como se ele fosse duas pessoas em uma.
O violão seguia num canto, mas algumas vezes chegava a cantarolar.
O tempo passava e nada de Jeanne aparecer.
Nem telefonema, nem mensagem, nem nada.
Um dia Gilbert precisou ir à Paris, para uma apresentação de vinhos.
No meio da apresentação uma mensagem: Estou aqui fora...
Ele deixou a sala da Universidade onde acontecia a apresentação imediatamente.
Abriu a porta e deu de cara com ela.
Nenhuma palavra.
Os olhos verdes de Jeanne estavam cheios de lágrimas.
O abraço foi inevitável e o beijo só não foi mais forte porque o lugar não permitia.
Nenhuma palavra.
Entraram na apresentação sem nenhuma palavra.
Se olhavam, viam as lágrimas correr de um lado e de outro.
Saíram e continuaram em silêncio.
Andaram alguns metros e entraram em um bar.
Gilbert pediu um violão emprestado.
Nenhuma palavra ainda.
Cantou músicas conhecidas, cantou clássicos e terminou com uma inédita.
Jeanne ouvia e chorava.
Conversaram por horas.
Tomaram vinhos.
Jeanne explicou que o sumiço foi de reflexão, sem traição.
Essa história aconteceu faz 10 anos e hoje os dois contam com uma mistura de tristeza, pelo sofrimento que causou, e alegria, pelo futuro que provocou.

Carta Aberta da Vinícola Aurora

Carta aberta da Vinícola Aurora à sociedade brasileira   No início do século passado, algumas famílias italianas cruzaram o Atlântico à pr...