quinta-feira, julho 30, 2015

Entre o frio de Arnaldo Antunes e os versos de neruda estava Roberta e Lorenzo...



Mais um conto com trilha sonora. O primeiro passo é clicar no clip do Arnaldo Antunes.



Lorenzo fez tudo que podia.
Disse com todas as letras que queria Roberta.
Disse duas, três, mil vezes.
Jantaram, conversaram, beijaram, transaram...
Roberta disse que tinha gostado de tudo, mas vai saber...
Todos sabem que as mulheres são um poço de mentiras.
Lorenzo deu amor, carinho, juras de amor, palavras de amor e amor mesmo.
Construiu momentos felizes, construiu uma história que se não era grande era intensa.
Mostrou caminhos novos, enfrentou problemas velhos...
Fez com que Roberta tivesse todas as possibilidades de seguir vivendo com ele tudo o que pensava em viver.
Na verdade Roberta não pensava em tanto.
Roberta não queria algo tão intenso.
Roberta queria um caso, um amante, um amor de verão.
Lorenzo se recuperava da pressão de uma colheita com a obrigação de fazer um vinho ícone, onde qualquer falha pode valer o emprego, a carreira, a continuação da vida...
Ser enólogo de um ícone é uma pressão só comparada com a vida de um carcereiro num presídio de segurança "mínima" no Brasil.
A história aconteceu depois do engarrafamento dos vinhos.
Dos vinhedos de Casablanca até o Pacífico é um pulo.
Os dois se conheceram na casa de Pablo Neruda, em Valparaíso, com vista para a imensidão do oceano.
Entraram na casa do poeta, beberam a água do poeta, compraram os livros do poeta, um quadro do poeta e entraram nos versos do poeta...
Nem assim...
Não era pra ser.
Os beijos de Roberta eram quentes.
Os de Lorenzo eram intensos.
O abraço de Roberta era gostoso.
O de Lorenzo era verdadeiro.
Os sonhos de Roberta eram sonhos.
Os de Lorenzo eram realidade.
Alguns meses depois tudo virou apenas uma lembrança.
Dessas com dias contados para desaparecer pelo menos da cabeça de Roberta.
Lorenzo se fechou num refugio gelado, onde o vento que vinha do Oceano Pacífico teria o papel de manter a cabeça fria e a vista do mar poderia agradar os olhos.
O frio e a solidão serviram para aumentar a saudade, mas ajudaram a entender que só se resolve uma decepção sozinho.
Tentou esquecer Roberta, mas isso não era possível nem no verão, imagina no frio.
Se encontrou nos versos de Neruda:

"Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.
Mas para onde vá levarei o teu olhar 
e para onde caminhes levarás a minha dor.
Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos 
uma curva na rota por onde o amor passou.
Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame, 
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.
Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste. 
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.
...Do teu coração me diz adeus uma criança. 
E eu lhe digo adeus.
Pablo Neruda

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