quinta-feira, junho 18, 2015

Miguel viu tudo ficar pequeno, mas construiu coisas grandes... - Conto



Miguel nasceu entre os vinhedos. 
Aos seis anos já corria de um lado pro outro, se divertindo na colheita e tentando ajudar a mãe na mesa de triagem.
O pai deixou pra trás os vinhedos, deixou pra trás a família e foi viver em Madrid com uma cigana que depois de ler sua mão entrou também definitivamente em sua mente.
Menos mal que Dolores, a mãe de Miguel, era forte como uma pedra.
Também era dela a tradição vinícola.
Sabia tudo do trabalho nos vinhedos, sabia tudo e mais um pouco sobre a vinificação, mas vender...
Não tinha nenhuma vocação para os negócios.
Miguel era uma criança quando sua mãe precisou vender tudo.
Os dois fizeram a mudança e ele jamais esqueceu os olhos de Dolores vendo os vinhedos ficarem pequenos durante a partida para Barcelona.
Miguel cresceu lentamente, como acontece em anos de sofrimento. 
Aos 15 começou a trabalhar numa vinícola no Priorato.
O trabalho era impecável e os conselhos de Dolores indispensáveis.
Conheceu Maribel nessa época.
Parecia impossível, parecia que se multiplicou em dois. 
Dava a mesma dedicação aos vinhedos e mais dedicação ainda para Maribel.
O sucesso no trabalho, ajudou Miguel a comprar seus próprios vinhedos, fazer seu próprio vinho...
Aos 21 anos tinha mais hectares do que tinha o seu primeiro patrão.
Maribel recebia a mesma dedicação, mas parecia cada dia mais distante de Miguel. 
Sabe-se lá o motivo...
Era hora de resgatar o passado.
Num almoço em família, num domingo ensolarado, Miguel olhou para Dolores e disse: Prepara Mamá. Nos pondremos todo lo que era nuestro...
Dolores era forte, mas forte mesmo, mas nessa hora teve que chorar.
Os dois se abraçaram diante do olhar neutro de Maribel.
Não demorou uma semana e Miguel fechou o negócio.
Na viagem de volta, os olhos verdes de Maribel estavam cheios de lágrimas.
Miguel esperava que ela fosse junto, mas também esperava com tristeza por esse desfecho.
No carro, em direção a Ribera del Duero, viu Maribel ficar pequena, mas viu os olhos de Dolores brilharem como nunca tinha visto...

La Pierre Frite 2014 - Branco - Le Pas Saint Martin - Saumur - Loire - França


Uma das grandes surpresas que tive no início deste mes, quando visitei o Loire, foi a vinícola Le Pas Saint Martin, da AOC Saumur.


O Laurent, é um cara apaixonado pelos vinhedos e trabalha sem nenhum produto químico.
Biô, como eles gostam de dizer.
Gravei imagens para um documentário e logo mostro alguma coisa aqui no blog também.
Além de vinhedos bem cuidados, sadios e vinhos surpreendentes, visitar as caves subterrâneas, onde tinha uma antiga (antiga mesmo) igreja, é fascinante.


Hoje quero falar do vinho, La Pierre Frite (a pedra frita) 2014.
É elaborado com a Chenin Blanc (100%).
O solo é de silicio e calcário, da era jurássica.
Sem fermentação malo láctica, sem madeira e com as leveduras nativas, das próprias uvas.
No nariz é limpo, tem boa intensidade aromática (média+), notas de torta de limão, flores brancas e ervas aromáticas.
Na boca é seco, acidez pronunciada, corpo médio -, álcool médio, intensidade de sabor média+.
Notas cítricas de casca de limão e uma textura muito interessante, gordurosa...
É um vinho suculento que não passou por madeira.
O final é longo e o vinho jovem.
Quem quiser aproveitar o frescor deve beber logo.
Infelizmente esse vinho ainda não está sendo vendido no Brasil. Espero que venha logo.
Nota: 91/100

Carta Aberta da Vinícola Aurora

Carta aberta da Vinícola Aurora à sociedade brasileira   No início do século passado, algumas famílias italianas cruzaram o Atlântico à pr...